sábado, 27 de fevereiro de 2021

No caminho da floresta outra vez P-34

 Após enviar a carta pra Milo pelo pássaro correio, Bah ficou no alto do penhasco que os fandans usavam para este fim, pensando em tudo que aconteceu nos últimos dias. Com os olhos fixos no horizonte daquele mar azul sem fim, ela se perdeu em devaneios, até que uma nuvem de chuva passou com seus pingos frios fazendo ela acordar para vida. Voltou pra casa se perguntando, outra vez, porque Milo escondia tudo aquilo da rainha Melina. Acabou mudando o caminho e foi pra casa de Syl, quando chegou lá perguntou diretamente, sem rodeios, se elas poderiam ir na casa da anciã. 

No dia e hora marcada Bah estava animada, ela adorava aventuras pra descobrir alguma coisa e imediatamente lembrou da última: na caverna, quando viu Milo e os outros fandans de Esmirna pela primeira vez. Percebeu que estava com saudade dele. Aqueles olhos verdes... o que eles escondiam?

O caminho pra casa da anciã era complicado, ficava praticamente no fim da floresta, o que equivalia dizer, no fim da ilha. Ela vivia sozinha e nenhuma vez nos últimos tempos tinha vindo a cidade. Os fandans que a visitavam levavam presentes diversos em troca de sua sabedoria pra resolver vários tipos de problemas, pois ninguém naquela ilha era mais velho que ela, nem tinha tanto conhecimento acumulado por várias gerações de fandans.

Mas Bah estava preparada, pesquisou sobre o caminho em todos os detalhes, preparou uma fornada de seus biscoitos e bolinhos pra levar de presente e tratou de avisar vó Fah sobre a aventura só na hora de ir, quando já estava vestida e com a bolsa nas costas, pois sabia que ela não aprovaria. Fah praticamente estava morando na casinha da floresta, adorava cuidar de Alê.

Depois de muitas recomendações da avó, que sabia que não podia segurar a neta por mais que tentasse, Bah e Syl partiram pra mais uma aventura na floresta. No fim de duas horas já estavam na metade do caminho, pararam embaixo de uma grande sombra de árvore pra fazer um lanche e tomar água. Elas estavam em um trecho de subida quase lateral ao mar, Bah de onde estava, sentada em uma raiz da árvore, podia ver o mar lá embaixo. Syl tagarelava sem parar mas ela não prestava a atenção. Foi neste momento que ela viu passando lá embaixo um barco estranho, forma e cores estranhas... e dentro do barco vestidos de negro, cabelos negros ao vento e falando uma língua estranha estavam quatro tiriosh!

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Os Tiriosh P-33

Desenho de um Tiriosh

A conversa continuou, Bah queria saber mais:

- O que se sabe sobre este povo que pereceu na outra ilha onde Milo está?

- Os antigos fandans chamavam eles de "Os Tiriosh" diziam que eram pouco educados, muito desconfiados e belicosos. Quando a pedra foi retirada da ilha eles perceberam que ela em breve se tornaria inabitável, então vários deles pegaram seus barcos e saíram de lá, dentre estes alguns tentaram perseguir os fandans, mas ninguém nos vence no mar, sempre fomos ótimos marinheiros; já os que ficaram na ilha, que foi uma minoria, esses sim, pereceram.

- Então eles podem ter encontrado outro lugar pra viver ou morreram no mar?

- Esta pergunta não sei te responder. As duas opções são possíveis.

A rainha Lara levou Bah até uma grande sala onde algumas pinturas estavam expostas nas paredes, eram pinturas dos tempos antigos dos fandans e entre elas havia uma que mostrava os Tiriosh espreitando por entre a vegetação o acampamento dos fandans, usavam pouca roupa e tinham uma expressão no rosto nada amistosa, dava pra ver que tinham armas, seus cabelos eram negros e a pele morena.

Bah saiu do palácio muito impressionada com a história antiga de seu povo. Disse pra rainha que escreveria pra Milo contando tudo. Estava tão compenetrada em seus pensamentos que esbarrou em alguém quando virou a esquina do corredor principal do palácio: Erik! Ficou cara a cara com ele, os dois ficaram um momento olhando um pro outro até que Erik falou:

- Bah! Como vai? Soube que anda bastante ocupada e que é frequentadora assídua dos dois palácios de Solemar e conversa com as duas rainhas.

Bah deu um sorriso tímido e forçado, teria acabado de notar uma certa inveja nas palavras de Erik? Eles andavam se evitando há algum tempo. Erik só ia ver Alê quando ela não estava em casa e em alguns dias levava o filho pra passar o dia com ele. Bah ficava matutando como duas pessoas que tiveram tanta intimidade agora eram dois estranhos. Respondeu rapidamente que a vida era surpreendente mas precisava se apressar agora. Erik não perdeu a chance:

- Lembranças para o príncipe!

- Ah! Lembranças pra Hanna!

Erik não esperava por aquilo, fechou a cara, deu as costas pra ela e foi embora. Bah ficou rindo no meio do corredor. Ele achava mesmo que ela não sabia da nova namorada dele? Hanna trabalhava na mesma sala do palácio que Erik e sempre teve um olho comprido pra ele. Bah já sabia disso há algum tempo, pois quando se tem uma amiga como Syl, nenhuma fofoca passava despercebida.

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sábado, 6 de fevereiro de 2021

O passado dos fandans P32


 A conversa não poderia terminar de outra maneira, a confirmação foi feita: sim, os antigos fandans haviam retirado daquela remota ilha onde Milo agora se encontrava, uma rara pedra lilás com tamanho poder que era capaz de transformar uma ilha deserta, cheia de pedras, de clima extremo e solo infértil, numa ilha de clima ameno, solo fértil e com uma fauna e flora exuberantes.

A rainha Lara explicou para Bah que seus antepassados haviam habitado a ilha há muitos e muitos anos atrás e tinham entrado em disputa com um povo que já morava na ilha, este povo considerava que os fandans eram intrusos e que a ilha não comportava dois povos diferentes. A disputa só se encerrou quando os fandans descobriram o poder da pedra, pegaram a mesma e fugiram da ilha. Depois de muito navegarem acharam uma outra ilha inóspita onde se estabeleceram, o poder da pedra deixou Solemar com a aparência que tinha hoje, uma ilha admirável em muitos aspectos. Quando a cidade de Solemar foi construída e o castelo do rei foi erguido, a pedra lilás se tornou a pedra fundamental da construção, onde permanece até hoje.

-E foi assim que chegamos aqui e fundamos nosso país - disse a rainha - Veja bem, não roubamos a pedra deste povo da ilha onde Milo está, pois quem primeiro achou esta pedra foi uma fandan pertencente as primeiras famílias que deram origem ao nosso povo. Na época ninguém conhecia os poderes da pedra, ela achou a pedra bonita, levou pra casa... e daí começou a notar mudanças para melhor em sua casa, em sua rua e depois no bairro inteiro onde morava. Os sábios daquela época atestaram que a pedra tinha um poder forte totalmente positivo, era essencialmente um poder benéfico. Quando esta informação se espalhou a pedra sumiu sem deixar vestígios e os fandans daquela época não sossegaram até encontra-la outra vez. Quando acharam a pedra na ilha com este outro povo, concluíram que foram eles que tinham roubado a pedra e simplesmente a pegaram de volta.

-Então... - disse Bah - nosso país e nosso povo estão intimamente associados ao poder desta pedra.

-Sim, sem dúvida - respondeu a rainha - pois nesta região do mundo que conhecemos e habitamos, o grande mar de dentro está cheio de ilhas inóspitas e essa pedra foi a salvação para o nosso povo.

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