quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A pulseira de Mara P-64



 Apesar dos seus afazeres, Bah conseguiu mandar um recado pra Milo e Athina, pedindo pra eles virem a floresta verde perto de sua casinha. Vó Fah ficou tomando conta dos alunos e por volta das 10 da manhã os três se reuniram no local onde Bah vira as flores lilás. Elas tinham murchado e o gelo derretido, mas não restavam dúvidas: eram as mesmas que Milo vira na antiga ilha de Solemar. 


- Essas flores são mágicas, elas só apareceriam aqui se alguém conhecedor de magia fizesse isso. Eu mesma estudei estas flores quando os tiriosh começaram a aparecer por aqui, elas estão ligadas a magia maléfica que transformou os fandans em tiriosh. O lugar que elas crescem geralmente é coberto de gelo o ano todo, por isso existiam em abundância na antiga ilha dos tiriosh cujo inverno era eterno. - disse Athina.


- Então só resta a pergunta: quem fez esta magia aqui neste local? E certamente este fandan não queria que ninguém visse pois escapuliu o mais rápido que pode! - disse Bah.


Milo, que tinha treinamento militar, andou na floresta em volta pra ver se achava alguma pista, já estava voltando sem esperança de encontrar alguma coisa, quando viu rente ao chão uma pulseira com pedrinhas coloridas que lhe pareceu familiar. Era uma pulseira feminina, onde tinha visto ela antes?

 

- Minha não é! - E realmente não era o tipo de pulseira que Bah usava, ela escolhia cores bem específicas em seus acessórios e era Syl que fazia todas elas. Aliás, Syl foi de grande ajuda porque quando viu a pulseira disse sem pestanejar:


- Não é daqui de Solemar, nós artesãs não fazemos pulseiras assim. Elas são típicas...


- De Esmirna! É, eu sei... - disse Milo, ele ficou imóvel por um tempo, seu rosto tomou uma expressão de quem estava pensando rápido e tirando suas próprias conclusões.


- Milo, vc sabe de quem é, não é? - perguntou Bah 


- Tenho uma forte desconfiança que sei de quem é - ele virou a pulseira para o lado de dentro onde estava gravado um pequeno desenho que conhecia bem: um brasão de família.


- Espera... já vi este brasão! Lá no palácio de Esmirna!


- Exato, é o brasão de minha família. - Milo respondeu sombrio - A mãe não usa pulseiras assim, não é do gosto dela...


- Espera... você está dizendo que esta pulseira é de...


- De Mara!


Bah e Syl olharam uma pra outra sem acreditar, não falaram nada.


- Bem... se  minha irmãzinha anda aprendendo magias maléficas, acho que vou precisar falar seriamente com ela. Ela já não faz muita coisa por Esmirna, mas isso é demais! - Disse Milo enquanto balançava raivosamente a pulseira em sua mão. Dizendo isso saiu mais que depressa, não antes de prometer a Bah que daria notícias.


- Meu Deus Bah! - disse Syl - O que a princesa pretende com isso? 


- Boa coisa não é... e ainda por cima veio praticar a magia aqui em Solemar bem perto de minha casinha!


Bah ficou o resto do dia pensativa, ela achava que Mara era muito ligada a mãe, ao contrário de Milo que enfrentava a rainha todas as vezes que não concordava com ela. Lembrou das ocasiões que se encontrara com Mara, ela sempre se mostrava fria e indiferente, parecia alguém sem vontade própria em determinadas coisas, principalmente nas questões mais importantes para Esmirna. E agora isso? De repente sua intuição repetiu uma frase em seus pensamentos: sem vontade própria! Será que Mara estava sendo controlada por alguém?


🌼" Pensar é fácil. Agir é difícil. Agir de acordo com o que se pensa é o mais difícil de tudo."🌼


terça-feira, 21 de setembro de 2021

Frei e a flor lilás P-63

Este é Frei

Frei e Milka estavam vivendo uma paixão que ambos desejavam há muito tempo. Eles viviam sozinhos, já tinham vivido outros amores, tiveram seus filhos que agora eram todos adultos e cuidavam da própria vida, tinham netos e até bisnetos. Mas sempre desejaram compartilhar a vida com mais alguém. Quando Milka foi pra Esmirna ela só pensava em Lyam, até que finalmente se desencantou com ele e percebeu o vizinho fandan que sempre considerara seu melhor amigo na cidade. Frei se apaixonou por ela assim que a conheceu mas precisou de muita paciência, inclusive teve que ajudar Milka a tentar se encontrar com Lyam, o que acabou não dando certo. Agora finalmente juntos os dois eram só felicidade. Eles fecharam suas casas e foram passar um tempo juntos na mesma praia do amor que Bah foi com Milo algum tempo atrás. Bah estava muito feliz por eles, a família fez uma festa para os dois. Todos esperavam que Milka se tornasse uma pessoa mais tranquila agora, ela sempre pareceu muito carente de amor e atenção. Frei parecia ter o dom de acalma-la, era um fandan tranquilo que cozinhava muito bem, fazia pão como ninguém e tinha uma grande plantação de cereais.


Bah terminou sua primeira fase de treinamento no grupo EVA e tirou nota máxima. Recebeu o carinho das mestras, o que a deixou ainda mais feliz, e imediatamente já começou a segunda fase. A primeira fase tinha sido mais teórica que prática, já a segunda fase seria justamente o contrário, a prática iria predominar. Nos dias que se seguiram ela chegava em casa completamente exausta. Uma noite depois de tomar banho, se olhou no espelho e percebeu que seu corpo estava se transformando, seus músculos tinham ganhado definição; apesar do cansaço ela se sentia mais forte pela manhã e isso lhe dava garra pra continuar. Ela passou a treinar com as mestras de grau mais elevado, aí percebeu que não estava indo tão bem assim... tinha muito que aprender, precisava de mais agilidade e principalmente não deixar as emoções tomarem conta dela na hora da luta, precisava se concentrar. Milo ajudava sempre que podia, eles treinavam na área externa da casinha da floresta sob o olhar atento de Vó Fah que quando mais jovem treinara no grupo EVA


Numa manhã de setembro Bah fazia seu passeio matinal quase diário pela floresta antes dos alunos chegarem, quando teve uma forte impressão de estar sendo observada. A ultima vez que isso aconteceu foi na caverna que hoje é a passagem mágica entre Solemar e Esmirna. Naquela época ela era uma fandan corajosa mas não tinha o treinamento de hoje. Imediatamente se colocou numa posição de proteção ao mesmo tempo que estava pronta para atacar se fosse necessário. Concentrou os sentidos pra perceber onde a ameaça estava: um leve movimento de um galho e suas folhas denunciaram a presença de alguém que se afastava rapidamente. Bah correu o mais rápido que pode para o local mas não encontrou ninguém. Algo no chão lhe chamou a atenção: eram flores não naturais em Solemar, tinham uma cor lilás e estavam cercadas de gelo. Bah lembrou onde tinha visto essa flor antes: Milo lhe enviara a flor lilás seca dentro de uma carta que lhe mandara da ilha dos tiriosh.


✍ " É a mente que esculpe o corpo." ❤

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

O tempo cura tudo P-62


 Cabe aqui uma explicação: desde o começo desta estória eu falei que os fandans eram um povo diferente, muitas vezes melhores que os humanos, embora eles sejam em parte humanos e em parte do povo das fadas. Os pecados e crimes humanos mais sórdidos não eram encontrados entre os fandans, como os roubos, estupros, suicídio e homicídio. Acontece que os fandans cuja porção fada é diminuta são mais sujeitos a estes pecados, era justamente o caso de Lyam que tomado por uma ira imensa acabou por matar outro fandan e pagou com a própria vida por isso. Mas por que as rainhas fandans não foram misericordiosas com Lyam? Porque em acontecimentos tão graves como este não havia perdão. As rainhas sabiam que aquele fandan em questão tinha um defeito tão grave que nenhum outro castigo ou pena serviria para ele, era algo incurável inclusive pela magia. Por isso, apesar de alguns fandans questionarem a decisão das rainhas, a maioria concordou com o veredicto. Uma frase foi muito repetida na ilha naqueles dias: "Temos que cortar o mal pela raiz."

Bah ajudou Athina e Milka a se conformarem com a morte de Lyam. Foram dias difíceis para as duas e pra família dele. Syl descobriu que a ex-namorada dele, que também trabalhava com jóias como ela, tinha terminado o namoro há pelo menos 2 meses, ela comentara que Lyam estava muito estranho há tempos, não era mais o fandan que ela conheceu e por quem tinha se apaixonado meses atrás. Ouvindo isso Athina comentou:

- Lyam sempre foi muito frio e racional. Ele parecia desconhecer a empatia. Eu e a mãe dele insistimos bastante em conversas pra faze-lo entender isso, mas não tivemos muito sucesso. De uns tempos pra cá ele realmente estava diferente... 

Bah não quis comentar, mas lembrou de quando foram pela primeira vez na casa de Athina e Lyam apareceu lá, acabaram descobrindo que ele tinha arrancado uma pagina de um livro mágico da avó, um livro milenar que Athina guardava a sete chaves! E ele era contra a volta dos ex-tiriosh, tinha ficado muito chateado, para não dizer irado, com a avó, porque ela fizera a transformação dos tiriosh em fandans. Naquele dia na casa de Athina,  Milka percebeu pela primeira vez que não tinha a menor chance com Lyam, ele era completamente indiferente a ela.

- Preciso encerrar esta minha paixão impossível de uma vez por todas! - disse ela.

- Assim é que se fala! - respondeu Bah.

O tempo passou e as coisas foram entrando na rotina de sempre. Bah foi passar um dia com Milka na casa dela em Esmirna, pois tinham combinado de ver no comércio da cidade alguns tecidos e aviamentos para a mãe que era costureira; quando chegou lá achou a tataravó bem mais animada. Notou que ela olhava constantemente pela janela para casa do lado. Saíram pra loja de tecidos e quando voltaram Milka se adiantou pois viu um fandan chegando a casa vizinha. Bah lembrou quem era ele: Frei! Ele tinha ajudado muito Milka quando ela entrou quase clandestina em Esmirna, naquele momento as duas cidades ainda não eram amigas. A julgar pelo sorriso dos dois, o rosto avermelhado de Frei e a cara bobona que Milka adotou, um novo casal tinha se formado ali e estavam indo muito bem obrigado!

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" Espero que quando a vida te disser: não, você ouça: tente outra vez! "

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terça-feira, 7 de setembro de 2021

O julgamento P-61

Saia da floresta seca da maldade e venha pra floresta verde do bem!

 Houve um rebuliço enorme em Solemar e mais ainda em Esmirna nos dias após a descoberta do corpo de Bijor. A rainha Lara e rainha Melina deixaram as diferenças de lado e se uniram pra resolver aquele problema. Nunca antes na história dos fandans ocorrera um assassinato, isso tornava tudo mais grave e absurdo, principalmente pela maneira como acontecera. Houve mortes em guerra, mas assassinato não!

 Depois de muito insistir, a polícia de Esmirna descobriu a motivação do crime: os fandans envolvidos tinham descoberto uma mina de ouro do outro lado da cidade mineradora chamada simplesmente de Minas; quem descobriu foi Bijor que estava acompanhado por Lori, os dois eram ex-tiriosh e tinham mantido segredo o máximo que conseguiram, mas precisaram da ajuda de Lyam pra atestar que era mesmo ouro. Em Esmirna os fandans mineradores trabalhavam para a coroa e ganhavam muito bem pra isso, então os três deveriam ter contado ao governo de Esmirna que tinham achado uma mina de ouro, mas não, quiseram ficar com o ouro só pra eles, o plano era vender o metal fora da ilha em um mercado distante conhecido apenas pelos ex-tiriosh e que comprava metais preciosos com muita avidez.

Descoberta a motivação do crime, a polícia quis saber qual dos dois fandans tinha matado Bijor, pois foi confirmado que o mesmo foi pego arrumando suas coisas e separando um barco pra fugir sozinho com o ouro. Eles tinham conseguido extrair da mina uma boa quantidade do metal, mas Bijor não quis dividir, escondera o ouro, daí a fúria dos outros dois fandans. Mas nenhum dos dois confessou o crime. Os policiais chamaram então mago Ron que lançou neles o feitiço da verdade: sob aquele feitiço qualquer fandan falaria apenas a verdade e confessaria qualquer segredo. Foi aí que descobriram que Lyam tinha matado Bijor com sua espada num acesso de fúria. Depois ele teria obrigado Lori a carregar o corpo junto com ele até a encosta onde foi achado dias depois.

A lei dos fandans era clara em relação a casos de assassinato: se o fandan matou alguém pagava com a própria vida. A rainha Melina aproveitou pra repetir que estava certa desde o início: os ex-tiriosh tinham uma índole má... mas calou-se com relação a Lyam que nunca fora tiriosh antes e tinha sido criado em Esmirna com todo amor de sua família. Athina, avó de Lyam, estava arrasada. No julgamento Lyam disse que estava arrependido e pediu clemencia, mas as duas rainhas concordaram que ele deveria pagar pelo que fez, não havia clemencia pra casos de assassinato. Já Lori ficaria preso por um bom tempo. O executor da pena era um guarda do palácio de Esmirna, que usou a própria espada de Lyam, mas antes ele foi sedado, foi a única coisa que as rainhas permitiram em favor do réu. 

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" Ninguém tem o direito de fazer o que deseja, a não ser que deseje fazer o que é direito. "

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