Mara volta para Cidade Murada P-176

 Mara se isolou em seu quarto, mas a medida que o tempo ia passando ela ficava cada vez mais inquieta. Uma pergunta sem resposta não saía de sua cabeça: onde está Thales? Começou a perguntar para os fandans que encontrava, mas ninguém sabia a resposta. Na verdade, quase ninguém sabia que Thales tinha ido embora. Após três dias e cada vez mais ansiosa, Mara resolver quebrar o gelo com o irmão. Esperou que os funcionários terminassem o expediente com Milo e fossem embora, aí entrou sorrateiramente na sala e estacou diante dele. 

- Onde está Thales?

Milo, sem pressa nenhuma de responder, terminou primeiro o que estava fazendo para finalmente olhar para a irmã.

- Ele foi passear por aí... Está muito aborrecido com você. - E sem mais delongas, se levantou e saiu da sala, deixando a irmã sozinha.

Mais tarde, a rainha Melina apareceu no espelho principal do palácio querendo falar com o filho:

- O que você está fazendo? - Milo adivinhou que Mara tinha contado tudo para a mãe - Você separou os dois? Ela está grávida dele, menino! - a rainha Melina costumava chamar o filho de "menino" quando estava insatisfeita com ele. Mas Milo fechou o espelho e nada respondeu. 

Algumas semanas se passaram. Milo voltava de Solemar após passar alguns dias com a rainha Lara vendo planos em comum para as duas cidades, era uma tarde ensolarada e de muito calor, assim que pisou no píer do porto, um dos guardas veio lhe avisar que Mara tinha partido há algumas horas daquele mesmo porto. Assim que ele acabou de falar Hayden apareceu:

- Milo, ela praticamente implorou pra ir embora, disse que não tinha apoio nenhum aqui e queria ir pra junto da mãe. Nós a levamos algumas milhas adiante e ela passou para outro barco que veio da Cidade Murada. Já tinha combinado tudo com a mãe.

- Ótimo, é melhor assim. 

Naquela noite foi Dario que apareceu no espelho. Ele olhou para o filho com curiosidade:

- Eu não sabia que você poderia ser frio como gelo. Sua irmã chegou aqui dizendo que você não gosta mais dela, que não reconhecia mais você.

- Não sei fingir que está tudo bem, não depois do que ela fez. E me faça um favor: diga pra ela que não volte mais para cá, pra mim já basta!

😮😮😮

A solução P-175

Antes de Thales sair furtivamente pela janela do palácio de Esmirna, vamos voltar algumas horas no tempo, pois assim que Mara voltou para seu quarto e Bah e Athina saíram do palácio, Milo, extremamente irritado, se sentou outra vez e fez sinal pra que Thales e Hayden também o fizessem.

- Isso não vai ficar assim! - disse ele.

- Você pensou em alguma solução? - perguntou Hayden.

- Sim! - disse ele olhando pra Thales.

- A solução tem a ver comigo, não é mesmo? - Thales nunca foi bobo.

Milo deu um sorriso enquanto assentia: - Se Mara não pode ser castigada porque está grávida e sabendo que o pior castigo para ela é ficar longe de você, quem vai sumir, quem vai embora, é você Thales!

Thales ficou extremamente sério encarando Milo: - Está me mandando de volta pra Cidade Murada?

- Não, você pode ir pra onde quiser, só não pode ficar aqui. Sugiro a Ilha Negra, por exemplo. 

- Pra ficar perto dos humanos que Dario comanda? Nem pensar!

- Deixe ele ficar aqui, Milo. Há muitos lugares em Solemar e Esmirna onde ele pode ficar sem ser visto. - disse Hayden.

- Não, Mara irá descobrir. Quero você em um lugar que ela não te encontre.

Thales pensou um pouco andando pela sala, até que finalmente parou:

- Está bem! Vou embora agora mesmo. Estou muito chateado com Mara, é melhor dar um tempo com ela. É uma pena porque estava realmente gostando daqui. - Olhou pra Milo e Hayden e acrescentou - Agradeço pelo voto de confiança em mim, ter boas companhias me ajudou muito.

- Isso não é uma despedida, Thales. - disse Milo - É uma solução temporária. Espero ver você de novo, acho que estava indo bem. - Hayden assentiu concordando.

Eles se abraçaram e Thales disse: - Vou pegar meu barco e algumas coisas básicas.

- Mande notícias, mas não coloque endereço de onde está.

Naquela noite sem lua, Milo acompanhou de um porto escondido a partida de Thales. Quando o pequeno barco sumiu no oceano, ele suspirou e pensou: Até quando ficarei lutando contra a maldade de fandans de minha própria família?

🌜🌝🌛

Era tudo um plano, Mara? P-174

 Aquilo caiu como uma bomba na sala, Hayden, Milo e Thales ficaram olhando para Mara, incrédulos:

- Mentira! Você inventou isso pra se livrar de seu castigo! - Milo foi o primeiro a reagir.

- É verdade! Eu fiz o teste porque estava desconfiada, estava sentindo algumas coisas estranhas.

Athina foi chamada e providenciou um teste de gravidez típico das fandans que consistia em um liquido mágico colocado em um recipiente onde se acrescentava urina, se o líquido mudasse de cor a fandan estava grávida. Mara foi convidada a encher um potinho, sempre com supervisão de Athina e Bah. Quando a mistura foi feita o líquido mudou de cor! Mara, com um enorme sorriso, fez questão de mostrar para todos o resultado do teste.

- Viram? Eu falei a verdade!

Bah cochichou no ouvido de Milo: - E agora? O que você vai fazer?

- Você não combinou nada comigo, não me falou nada! - Thales não parecia satisfeito com a novidade.

- Mara, ter um filho é uma responsabilidade muito grande. Está parecendo que você engravidou porque estava prevendo um possível castigo pelo seus atos. - disse Hayden.

- Não! Não planejei nada, foi inesperado! Eu devo ter esquecido de tomar cuidado porque estava com a cabeça em outro lugar... - para Milo a irmã estava mentindo.

E tudo virou um impasse, porque em Solemar, como em muitas outras partes do mundo, as grávidas tinham tratamento especial. O castigo não poderia ser aplicado nesta condição. Mara voltou pra seu quarto muito feliz e fez questão de dar um sorriso irônico para Bah e Athina, embora evitasse de fazer isso com o irmão. Aliás, ela evitava o olhar dele e o de Thales.

- Ela engravidou de propósito,Vó! - disse Bah para vó Fah naquela noite.

- Eu acredito! Mas talvez a idéia tenha vindo da mãe dela.

- Sim... parece muito com o modo de agir da rainha Melina. 

Enquanto isso, no palácio de Esmirna, Thales desce furtivamente por uma das janelas e em poucos segundos desaparece na escuridão.

😮😮😮

Grávida P-173

Mara deu um pulo da cadeira quando ouviu o veredicto de Milo. Ela tremia enquanto apontava o dedo indicador para o irmão:

- Você está sendo cruel comigo! Não pode me separar de Thales!

- Cruel foi você com a prima Alana! Acha que por ser seu irmão e gostar de você, apesar de tudo, vou deixá-la sem punição? Volte pra Cidade Murada, aqui você não fica mais.

-Thales vai comigo! - Teimou Mara.

Thales olhava para os irmãos com o rosto impassível, neste momento resolveu se pronunciar:

- Não posso voltar pra Cidade Murada com você. - Mara ficou paralisada, seu rosto era só desespero - Você esqueceu que já fugi de lá para cá? Eu recebí ameaças! 

- Mas eu posso falar com a mãe e Dario, você fica protegido no palácio!

Thales deu um sorriso irônico: - Sua mãe não gosta muito de mim e Dario gosta menos ainda, afinal sou filho de Margot, inimiga declarada deles, eu estava do lado dela ajudando nas artimanhas que ela bolava contra eles. Mesmo que eles me ajudassem, por causa de você, eu nunca aceitaria viver escondido no palácio da Cidade Murada.

- Não, não... - Mara repetia sem parar com as mãos na cabeça, ela tinha ido pra um canto de parede, era como se quisesse se esconder de toda aquela situação. Bah e Athina, constrangidas, já tinham saído da sala e Hayden tentava abraçar a filha pra lhe dar um pouco de conforto, mas não estava obtendo sucesso. De repente, Mara pareceu se lembrar de algo, seu rosto mudou completamente, era como se uma luz tivesse acendido na mais completa escuridão, ela se virou para o irmão e para Thales triunfante:

- Não vou sair daqui! Eu estou grávida!

😮😮😮

O Julgamento P-172

Milo estava na casa da tia Marta, sentado em um dos sofás da imensa sala, ouvindo Alana falar sobre tudo que lhe acontecera desde o dia da passagem de ano. Ele tinha levado um choque quando vira a aparência da prima e agora, mais que nunca, se parecia com o pai, pois Dario parecia está sempre com raiva.

- Eu mesma tomei a decisão de ir para caverna escondida. Os primeiros dias foram tranquilos, pensei muito na vida, no que eu precisava fazer... Depois foi que veio o terror...

Após a difícil conversa, Milo prometeu que a irmã não ficaria impune, aliás ele já tinha decidido que precisava fazer alguma coisa desde que conversara com a mãe no espelho. Quando voltou ao palácio e foi ao quarto da irmã, descobriu que a ela tinha desaparecido outra vez, mas Thales estava lá. Ele já tinha voltado a vida normal, embora tenha sido aconselhado a fazer tudo com cuidado, pois a cabeça ainda doía. Os dois olharam um para o outro com desconfiança, outra vez. Mas ali estavam os dois fandans que Mara mais amava na vida.

- O que você vai fazer com Mara? - Ele sabia o que ela tinha aprontado, a dúvida de Milo era se ele tinha ajudado a namorada. Olhando para Thales, Milo entendeu qual seria o pior castigo para Mara naquele momento. 

- Você vai saber logo, logo... 

Milo colocou os guardas atrás de Mara e lá pelo meio da tarde eles voltaram com ela, Hayden vinha junto. Mara tinha os olhos no chão, não encarava ninguém. Logo depois Thales também entrou na sala. Athina e Bah também estavam por ali como testemunhas. Em uma das paredes da sala toda a conversa com Alana foi mostrada como um filme, também foi mostrado como o objeto de magia ruim de Mara tinha sido destruído, inclusive mostrava a própria Mara fazendo magia no quarto da prima com a pulseira.

Hayden olhava para Mara como se não a conhecesse mais, Athina, Bah e Milo não tiravam os olhos dela, Thales não se mexia e não olhava pra ninguém, mas quando o "filme" acabou, ele segurou o rosto da namorada e a obrigou a olhar para ele:

-Você não fica satisfeita em me ganhar como namorado, não é? Você tem que humilhar e maltratar quem perdeu.

- Exato - disse Milo se levantando e ficando de frente pra irmã - Nós temos leis aqui, sabe Mara? E você vai pagar pelos seus atos. Quando terminar o castigo você vai embora daqui... e não pode mais voltar pra ilha de Solemar... nunca mais! E o mais importante: Thales não vai com você!

😮😮😮

Alana volta pra casa P-171

Alana em seus melhores dias.

Definitivamente era Alana ali na frente delas, mas estava muito mudada. Alana sempre se pareceu muito com o pai, os cabelos platinados e a pele muito branca, o rosto angelical, mas agora parecia um fantasma, a pele muito pálida, a boca descorada, os olhos tristes e vermelhos de chorar e pra completar estava ainda mais magra, andava com dificuldade. Marta, quando viu a filha desse jeito, correu pra abraçá-la e as duas começaram a chorar.

- Eu passei pelo inferno, mãe. - disse Alana assim que se acalmaram um pouco - Meu mundo ficou negro. Eu via e ouvia coisas que hoje eu sei que não existiam, tinha muito medo e não conseguia dormir nem comer. Mas de uns dias pra cá as coisas começaram a melhorar. 

- Por que não pediu ajuda? - Bah perguntou.

Bah e Athina sentiam uma grande comiseração por ela:

- Eu não conseguia... sempre que eu tentava pedir ajuda ou sair daqui me sentia presa ao chão onde estava e nem conseguia falar.

- Acho que sabemos o que, ou quem, causou isso. - disse Athina, trocando um olhar significativo com Bah.

- Vamos embora para casa, vou cuidar de você. - disse Marta para a filha.

- Não quero que ninguém mais me veja assim...

- Ninguém vai lhe ver. Posso cuidar disso.

Athina usou magia e Alana voltou para casa e seu quarto sem que ninguém a visse, o sol já estava no meio do céu. Athina verificou e retirou as magias maléficas que ainda estavam presentes em Alana e no seu quarto. Marta trouxe uma bandeja com o almoço para a filha, que ao ver a comida da mãe conseguiu sorrir, ela já parecia melhor, tinha trocado de roupa, tomado um banho e passado um batom.

Marta foi até o espelho e tentou falar com Milo mas não conseguiu. Seu semblante estava revoltado.

- Bah, por favor peça pra Milo vir aqui. Quero que ele veja com seus próprios olhos o que aquela... desclassificada fez com minha filha!

- Acho que desta vez Mara vai ter o que merece. - disse Bah para Athina quando estavam indo embora.

😮😮😮

Visitando Alana P -170

Marta voltou a ficar preocupada com a filha Alana, depois que teve um sonho ruim. Passou o dia inteiro pensando no sonho e chorando de saudade da filha, aí resolveu procurar ajuda.

- Preciso ir lá onde ela está! - disse ela a Athina e a Bah. As duas estavam se tornando boas amigas.

- Você sabe que não deveria... mas está certo, vamos com você até lá, terei que usar magia para que o caminho se mostre para nós, isso normalmente não acontece quando há alguém na caverna escondida.

Elas combinaram de ir no dia seguinte logo cedo, Bah cuidaria da segurança das três, Athina da magia e apenas Marta entraria na caverna. O dia amanheceu nublado, um vento forte soprava aumentando a sensação de frio. As três fandans entraram na floresta pela praia da festa, Athina fez o caminho de nenúfares aparecer, mas as flores mágicas estavam apagadas, não havia luz ali. Seguiram pelo caminho por uns 10 minutos quando enfim avistaram a caverna, era visível uma luz fraca lá dentro. Elas contornaram a caverna pra ficar de frente para abertura que servia como entrada.

- Muito bem, Marta. - disse Bah - Vá até lá. Ficaremos aqui. Qualquer coisa nos chame.

Quando Marta entrou na caverna, Athina disse:

- Ainda acho que deveríamos ter avisado alguém desta aventura.

- Eu avisei a Milo, combinamos de não esconder nada um do outro.

- Ótimo!

Alguns minutos depois Marta apareceu na entrada da caverna acenando para as duas, parecia assustada.

- O que houve? - Disse Bah que tinha chegado correndo.

- Eu não encontrei minha filha, ela não está aqui.

- Calma - disse Athina - Ela pode ter saído, ter ido na praia, por exemplo.

- Como é lá dentro? - perguntou Bah.

- É confortável, quentinho. Vi algumas frutas e roupas em cima da cama.

Foi neste momento que ela sentiram, mais que ouviram, alguém chegando, quando se viraram viram Alana, ou pelo menos parecia aquela Alana que conheciam...

🔹💙🔹

Aura Negra P -169

Ezra quando jovem.

Mara tinha saído de perto de Thales por alguns minutos, sempre que sentia o irmão por perto ela dava um jeito de fugir rapidamente. "Consciência pesada" pensou Milo. Ele aproveitou pra conversar com o primo, perguntou a ele o que tinha acontecido há dois dias atrás no promontório da praia. Thales, sentado na cama, levou a mão a cabeça e fez uma careta quando tocou no curativo.

- Tive um susto daqueles. Mara começou a gritar como se tivesse sentindo muita dor, ela ficou incontrolável, eu me desequilibrei, ainda tentei me segurar em alguns galhos de uma árvore quando caí... - Ele fez uma pausa significativa e continuou, olhando bem pra Milo enquanto baixava a voz - Vi uma coisa esquisita... tinha... uma espécie de aura negra ao redor de Mara, nunca tinha visto algo semelhante.

Milo devolveu o olhar de Thales com pura desconfiança: - Como assim nunca tinha visto? Você é muito bom em magia e muitas delas maléficas!

- Estou falando sério! Mara se envolveu com magia muito pesada! Aquilo, a aura negra, me assustou mais que a própria Mara gritando. 

Milo pensou um pouco e respondeu: - Tenho quase certeza que ela usou magia derivada daquela fandan que morreu, Ezra, ela era sinistra. Minha mãe e a sua aprenderam muito com ela em troca de um favorzinho: um túmulo na ilha.

Mais tarde Milo finalmente conseguiu falar com a mãe no espelho, estava tentando há vários dias um encontro. Depois de contar os ultimos acontecimentos para ela, a rainha Melina disse:

- O que você quer que eu faça? Mara é adulta e responsável pelos seus atos.

- Em primeiro lugar, isso é culpa sua também, você ensinou Mara a odiar e usar magia de Ezra contra a própria prima. Alana está sofrendo outra vez depois que se libertou de suas artimanhas! Em segundo lugar - a rainha Melina quis falar mas Milo não deixou - eu e o Hayden, pai dela, que concorda comigo, vamos fazer Mara pagar por tudo que está fazendo contra Alana. 

A rainha Melina fechou a cara e sumiu do espelho.

😮😮

Thales é encontrado P-168

Milo, Bah e Athina ficaram sem ação olhando para Mara. 

- Me ajudem, por favor! - Mara estava realmente desesperada, ela correu pra Milo e abraçou o irmão - Milo, eu juro que foi sem querer, eu tive um choque terrível, senti uma onda de energia passar por mim e gritei muito, Thales estava a alguns passos de mim e tentou me segurar sem entender o que estava havendo, a gente estava na beira do promontório e aí...

- Sim? Continue.

- Ele se desequilibrou por causa de mim e... ele caiu lá embaixo! - Mara agora chorava copiosamente.

- Onde ele caiu exatamente, dentro da água?

- Ai, pelos deuses! Acho que foi na água. Mas não o vi em canto nenhum.

A notícia se espalhou tão rápido como rastro de pólvora e em pouco tempo muitos fandans estavam no local indicado por Mara. Quando os guardas do palácio chegaram, vários fandans já procuravam ao longo de toda a praia. Quando ficou claro que Thales não estava por ali, eles pegaram os barcos e foram procurar no mar seguindo as correntes marítimas. A procura durou um bom tempo, Milo foi pessoalmente para o mar ajudar.

- Príncipe - disse um dos marinheiros - Há muitas pedras naquela área, o local é bem fundo. Ele poderia ter saído ileso mas pode ter batido a cabeça numa pedra e ter ficado desacordado.

E foi exatamente o que aconteceu, acabaram achando Thales desacordado numa praia, bem perto do local onde ele foi preso quando invadiu Esmirna. Tinha uma pancada feia na cabeça que ainda sangrava, mas tirando isso, ele parecia bem. Foi levado para o palácio e recebeu ajuda médica. Mara estava aliviada e não saia do lado dele.

- Uma pancada na cabeça, sei exatamente como é isso. - disse ela, com os olhos vermelhos de tanto chorar, quando Milo entrou no quarto. 

- Por hoje passa, mas vamos ter uma conversa bem séria depois, está ouvindo mocinha? - Milo não estava brincando, seu rosto continuava raivoso enquanto Mara tentava disfarçar todo mal-estar que sentia - Vou querer saber o que você fez contra Alana usando aquela maldita pulseira, tudo explicadinho, nos mínimos detalhes.

🔹💙🔹

A pulseira é destruída P-167

O promontório.

Milo deu um longo suspiro e pegou mais um cálice de licor. Seu semplante continuava raivoso. Athina tinha saído da sala e Bah tentava acalmar a situação. A pulseira permanecia em cima da mesa e parecia ter aumentado de tamanho, os dois não paravam de olhar para aquele objeto sombrio, o que contrastava com o fato da pulseira ser extremamente colorida, um adorno que em outros tempos poderia ter alegrado o visual da princesa. Milo mandara chamar Mara mas ela tinha saído desde o começo da tarde acompanhada por Thales e ainda não voltara. Ele tomou a decisão de destruir a pulseira, pois assim fazendo destruiria também seu poder maléfico.

- Estou cansado, Bah. - disse ele - Cansado de lidar com tanta coisa ao mesmo tempo. Adiantei várias coisas hoje pra ver se descanso uns quatro dias seguidos. 

Nisso Athina retorna a sala com um livro de magia antigo.

- Pronto, eu achei as palavras certas pra destruir este objeto. - Ela abriu o livro em cima da mesa e apontou - Aqui está! Posso prosseguir?

Quando Athina pronunciou as palavras, a pulseira pegou fogo, rapidamente o metal derreteu e as pedras foram pulverizadas, em pouco tempo o que restava da pulseira sumiu no ar numa fumaça preta. Bah sentiu outro arrepio, parecia ter ouvido alguém gritar. Com os olhos arregalados ela perguntou:

- Vocês ouviram isso?

Athina virou a cabeça devagar, parecia paralisada onde estava:

- Sim, ouvi!

Milo olhou para as duas fandans e disse:

- Sei quem gritou, reconheci a voz... Mara!

- Sim... ela deve ter colocado muito de si naquela pulseira, quando a mesma foi destruída ela sentiu... ela deve ter sentido uma dor física.

Não tinha se passado dez minutos quando a porta da sala se abriu de supetão e Mara entrou, estava aterrorizada:

- Milo, Thales caiu!

- O que? Caiu de onde?

- Do promontório da praia! Ele caiu há pouco tempo... e sumiu! 

😮😮

Intangível P-166

Bah lembrou a Marta o que tinha acontecido algum tempo atrás envolvendo a pulseira de Mara:

- Isso não me parece boa coisa - disse Marta.

- E não é mesmo! Vou falar com Athina e com Milo e descobrir o que está acontecendo. 

Bah usou uma magia protetora para levar a pulseira consigo. Foi difícil falar com Milo, ele parecia ter sumido no ar, quando finalmente o encontrou já era noite, estava rodeado de funcionários na sua sala no palácio. Quando todos saíram, ele suspirou e pegou um pouco de licor de morango na bancada.

- Você está me trazendo um novo problema, adivinhei? - disse ele olhando pra Bah.

- Desculpe... mas a resposta é sim. - Bah explicou tudo e finalizou colocando a pulseira colorida em cima da mesa dele.

Milo olhou pra pulseira sem acreditar: - Eu guardei esta maldita pulseira no cofre! E protegi a senha de abertura com magia!

Eles chamaram Athina que por coincidência também estava no palácio. Depois de examinar a pulseira ela disse:

- Príncipe, a pulseira pode se tornar intangível, ou seja, incorpórea, e desta maneira atravessar paredes, no caso a parede do cofre. Sua magia protegendo a senha do cofre não falhou, o cofre não abriu. Mas a única fandan que conseguiria tirá-la de dentro do cofre, foi quem a transformou em objeto de magia ruim.

- Mara! - O rosto de Milo tinha se transformado numa máscara de raiva.

Athina continuou examinando o objeto em questão:

- Tem como ver quem usou a pulseira por último? Vi mago Ron fazer isso uma vez. - disse Milo.

- Sim, vamos lá. - Athina pronunciou algumas palavras e na frente deles apareceu uma cena, eles a viam pela perspectiva da própria pulseira: Mara estava no quarto de Alana! Ela levanta a pulseira que está em seu braço e pronuncia algumas palavras, o objeto se ilumina e depois volta ao normal caindo no chão com um baque surdo. Bah reparou no sorriso maldoso no rosto de Mara e sentiu um arrepio.

😦😦

A pulseira outra vez? P-165

Bah entrou junto com Milo no palácio de Esmirna, seu objetivo era pesquisar na biblioteca informações da época da rainha Sol. Vestia seu fardamento das mulheres guerreiras do grupo EVA, pois sairia dali para cumprir seu horário no outro palácio da ilha.

- Como estão Mara e Thales? 

- Estão bem até demais. - disse Milo - Quase não vejo os dois. Thales se mudou para os aposentos de Mara e a porta quase sempre está trancada. Começo de namoro, sabe como é... quando a vejo, de vez em quando, ela me parece muito feliz e já fala em se juntar oficialmente com ele.

Bah lembrou de quando conheceu Milo, sabia exatamente o que Mara estava sentindo, mas não conseguia torcer por ela, queria mesmo era ajudar Alana de alguma maneira. Por enquanto iria tentar descobrir sobre a caverna escondida, não pra tirar Alana de lá, mas porque já tinha percebido que muita coisa na ilha não era de conhecimento público e eram coisas boas que todos precisavam saber.

Na biblioteca, por mais que tentasse e pedisse ajuda a bibliotecária, não conseguiu nenhuma informação sobre a caverna. Foi só no outro dia quando levantou pela manhã, que lhe veio a idéia. Mandou um recado para Marta e a tarde apareceu na agradável e ventilada casa da tia de Milo.

- Bah - Marta estava realmente aliviada - Alana me escreveu, confirmou que está na caverna e que pretende ficar lá por um tempo.

Depois de tomar um café quentinho com biscoitos de aveia, Bah pediu pra ir no quarto de Alana. Explicou seus motivos e Marta a acompanhou.

- O que exatamente você procura? Um livro?

- Sim... ou um caderno antigo, diário...

- Espere... lembro agora! Eu vi Alana com um livro antigo várias vezes. Tinha uma capa vermelha com letras douradas!

Elas procuraram em todo o quarto inclusive usando magia, mas não encontraram o livro ou coisa que o valha. 

- Alana deve ter escondido ou até levado o livro com ela usando magia. - disse Marta.

Foi neste momento que Bah encontrou algo que a fez dar um grito de espanto:

- A pulseira!

Sim, era a pulseira de Mara usada uma vez pra fazer magia maléfica perto da casinha da floresta. A pergunta agora era outra: por que aquela pulseira estava no quarto de Alana?

😯❔

A caverna escondida P-164

Quando todos ficaram cientes do desaparecimento de Alana, a procura organizada começou, os fandans são muito bons em procurar coisas e pessoas desaparecidas. A tarde do dia 03 já tinha começado quando duas equipes de fandans varreram a floresta perto da praia onde a festa tinha se realizado. Nada de Alana, mas encontraram uma pista: uma flor! Mas não era uma flor qualquer, era uma nenúfar mágica. A planta que dar origem a flor é aquática e a flor é muito vistosa. No caso da nenúfar mágica dos fandans, ela tinha a propriedade de acender uma luz dentro dela mesma quando alguém a tocava. E mais ainda, segundo Athina, várias nenúfares tinham sido colocadas ao longo de um caminho especial na floresta:

- Isso foi feito há muito tempo.. - disse ela - É um caminho que leva a caverna escondida, um lugar usado por quem quer ficar um tempo só. Eu já fiquei lá nos meus piores dias. E quando alguém passa a ocupar esse espaço mágico, uma grande nenúfar aparece na floresta, só que neste caso a luz dentro da flor pisca até que alguém a encontre.

- Ah sim... - disse Milka - Eu lembro disso agora! Nunca fui nesta caverna, mas me disseram que foi a rainha Sol que a criou.

- Exatamente! Assim como todos nós, Sol também teve dias ruins quando preferiu ficar só por tempo.

Quando Marta soube daquilo ficou um pouco mais aliviada:

- Pelos deuses, eu não sabia deste lugar mágico, mas a Alana sabia! Quem será que ensinou pra ela sobre o caminho na floresta e a caverna escondida?

- É uma boa pergunta, eu e a Milka sabíamos porque somos fandans idosas, apenas os mais antigos sabem. E outra coisa: ninguém pode ir lá fazer uma visita. Eu sei que você deve estar muito preocupada, Marta, mas vamos dar tempo ao tempo, Alana precisa disso. A caverna, sendo mágica, possui comida, água e uma cama muito confortável, há luz a noite e livros! Em um dos livros há um encantamento, que quando bem feito, o seu bichinho de estimação vai até você. Se o fandan quiser, pode acessar o mar por um caminho estreito ao lado da entrada da caverna. E quando ela quiser voltar é só dizer a palavra mágica.

Bah não resistiu porque seu senso investigatório era grande:

- Posso tentar descobrir como Alana soube desse lugar?

❓❔❓

Um novo começo P-163

A grande festa de passagem de ano foi memorável, com muita animação, mas a grande novidade foram os alimentos que vieram como presente da Ilha Negra. Dario mandou um barco cheio deles e desde o primeiro momento em que o barco foi avistado nas milhas naúticas ao redor da ilha, passou por inspeção mágica constante. Milo sabia que Dario estava determinado em convencê-lo a participar do comércio na Ilha Negra. Havia frutas e legumes que eles não conheciam, por isso veio junto um livro com explicações referentes a cada fruta e cada legume, inclusive com receitas culinárias. O autor do livro era Frei, o namorado esmirnense de Milka, que voltara para Solemar junto com o barco de Dario. Ele foi muito requisitado na festa, todos queriam mais informações e o aval de um fandan da ilha contava muito. "Dario é muito inteligente" pensou Milo.

No nascer do sol do novo ano, muitos fandans permaneciam na areia da praia pra assistir o renascer da vida e de uma nova fase que se iniciava ali. Milka estava muito animada, ela e Frei iriam montar no próximo sábado uma nova barraca na feira com os hortifrutigranjeiros. A barraca ficaria logo em frente da loja onde Syl vendia suas jóias. Mas nem todos aceitaram a novidade logo, muitos ainda olhavam com desconfiança aqueles alimentos estranhos. 

- Isso é normal - dizia ela - eu gostei daqueles que experimentei, mas alguns não me pareceram apetitosos.

- Exato - os olhos de Frei brilhavam - E você não é obrigada a gostar de todos. 

Bah havia provado todos, um pouquinho de cada, ela adorava novidades na mesa. Mas naquele momento sua atenção estava voltada para uma fandan que não parecia nada feliz. De onde estava Bah viu Alana se afastar da família e entrar na floresta que beirava aquela praia. Se levantou e foi atrás dela pensando em lhe dar apoio, alguma palavra de conforto, pois Thales estava com Mara no palácio e Alana já sabia que tinha perdido "o novo Milo" para a prima; Thales era chamado assim por alguns fandans, em referência ao fato dos dois serem muito parecidos. Ela procurou por Alana por pelo menos 15 minutos mas não a encontrou, quando voltou para praia encontrou Marta saindo da floresta por outro caminho lateral, ela também estava procurando a filha.

- Acho que ela precisa ficar sozinha um pouco... - Marta comentou.

Mas aquele dia terminou, o segundo dia do ano começou e Alana não voltou.

😮😮