terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Quem é Ezra P-124

A ilha é um lugar mágico.

Apesar do medo que sentia naquele local de frio e sombra, Bah teve coragem suficiente pra se abaixar e olhar as inscrições no túmulo abandonado. Teve que afastar algumas plantas e o musgo que tomava conta do local, mas conseguiu ler uma data muito antiga e um nome incompleto que terminava com "ra." Micha estava muito assustada então Bah resolveu sair dali o mais rápido que pôde. O assunto do túmulo tomou conta da viagem de volta, todos queriam saber quem estaria enterrado naquele local solitário, frio e escuro. Bah pensava que poderia ser um humano, pois conforme explicado nas primeiras partes desta estória, não existem cemitérios em Solemar e Esmirna, os fandans quando morrem são cremados e voltam a se integrar desta maneira na natureza .

Quando Bah chegou na casinha da floresta no começo da noite, vó Fah já sabia da estória do túmulo. Bah não parava de se surpreender com a "rede sem fio" de conversas e fofocas da ilha, e novamente não se surpreendeu pois quem contara tudo a vó Fah tinha sido Syl.

- Ela já foi - disse vó Fah - mas queria saber o que você vai fazer com esta informação.

Milo não viria pra casa naquela noite o que era uma pena, pois Bah achava que ele era a pessoa certa pra responder quem estava enterrado naquela mata que pertencia a Esmirna. Foi difícil segurar, mas assim que amanheceu mandou um recado pra Athina, sim, a idosa e sábia fandan também poderia ter uma resposta. Então na hora do almoço, Bah, Fah e Athina se sentaram ao redor da mesa principal da casinha. Os alunos já tinham sido dispensados.

- Estou tão espantada quanto vocês - disse Athina - isso é no mínimo estranho. Mas não pode ser um humano enterrado na ilha, nenhum humano entra aqui pois nossa terra tem muita magia e simplesmente não existe para eles.

- É um fandan mau e condenado - disse vó Fah - só isso explica o fato de ter sido enterrado assim e ter tornado o local de sepultamento assombrado.

- Eu vi a data da morte, esse fandan viveu há muito tempo, nenhum de nós tinha sequer nascido, inclusive você Athina.

O portão do jardim se abriu, era Milo chegando.

- Vocês também? Não se fala em outra coisa na ilha inteira - disse ele.

- Algo me diz que você sabe de quem é o túmulo. - disse Bah com os olhos brilhando.

- Sei. Ela se chamava Ezra, uma antepassada da família e de quem não tenho orgulho nenhum.  

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sábado, 18 de fevereiro de 2023

O túmulo na mata P-123

Que sempre haja luz nos lugares escuros.
Bah estava sentada na sala da casinha da floresta com seus dois filhos Michel e Alê. Alê, o mais velho, filho de Erik, tinha crescido rápido e sempre surpreendia a mãe com sua inteligência. Mas Michel, filho de Milo, não ficava atrás, muito pelo contrário, ele era surpreendente em muitos aspectos, pois tinha começado a andar e falar bem antes dos outros bebês fandans da ilha. Bah achava os filhos parecidos com seus respectivos pais, nenhum dos dois tinha a aparência da mãe. Alê, além de filho, já era seu aluno também, ele se juntou a turma de Bah. 

Os alunos de Bah eram: Bita, Cicilo, Fofucho, Malcia, Malcionino, Micha e Salsionino. Micha, a aluna mais velha, estava terminando seus estudos com Bah naquele ano, ela passaria para outro nível de estudos mais avançados e específicos com outra professora fandan. Bah achava que Micha era a melhor aluna que ela tivera até hoje. E foi justamente Micha que encontrou uma novidade de arrepiar os cabelos.

Bah tinha levado seus alunos para um passeio em Esmirna, pois o intercâmbio entre as duas cidades estava indo muito bem e a maioria dos pequenos fandans de Solemar não conhecia completamente o reino de Esmirna. Um barco fez o passeio pela costa, mostrando os portos menores e o principal, as praias, as edificações... Por volta do meio-dia eles pararam numa praia de areias brancas pra almoçarem na sombra da vegetação que naquele local era muito densa. Após o almoço e um pequeno período de descanso, alguns resolveram tomar um belo banho de mar e o restante foi com Bah passear pelas veredas da vegetação. Os monitores cuidavam muito bem dos alunos por isso Bah se afastou um pouco e se embrenhou na mata. Ela sentia novamente aquele gosto por aventura, aquela vontade de andar por lugares desconhecidos.

Imediatamente sentiu que aquela mata era estranha, a vegetação além de muito cerrada era diferente do que ela estava habituada. As árvores eram retorcidas, as folhas escuras e o ar estava frio apesar do dia está quente. E começou a ficar mais frio e escuro a medida que Bah penetrava na mata. Ela olhou pra cima, não via mais o sol. Começou a sentir uma espécie de apreensão crescente. Algo se moveu perto dela, algo escuro... Foi neste momento que ela ouviu um grito: era de Micha que entrou correndo na vereda onde Bah estava e foi logo dizendo:

- Este lugar é assombrado! É um lugar ruim!

Bah pegou a mão dela e disse:

- Vamos sair daqui!

Mas Micha a puxou para o outro lado da vereda e apontou para o chão. Ali, quase escondido pela vegetação e quase totalmente destruído, havia um túmulo escuro.

😮😮😮

PS: Você pode ler mais sobre os alunos de Bah no link "Sobre este blog."

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Um novo irmão para Milo P-122

 Margot foi julgada e condenada alguns dias depois, era culpada por traição ao rei legítimo da cidade murada e por criar um novo reino do qual não tinha direito algum. Foi cogitado que ela ficasse presa em um dos muitos quartos do palácio, mas Melina não queria a irmã por perto, então ela foi enviada para sua casa onde ficaria em constante vigilância, uma prisão domiciliar sem nenhum luxo, teria que levar uma vida bem simples dali pra frente. Muitos reclamaram disso, queriam que ela tivesse um castigo maior, mas quem a conhecia bem, como Dario, sabia que a privação de liberdade, a falta de amigos bajuladores, dos aliados nos planos diabólicos e por fim a retirada do luxo, coisas que ela adorava, já eram castigo suficiente. Já Melina não pode deixar de lembrar sua própria prisão domiciliar em Esmirna, algum tempo atrás, de onde fugira pra cidade murada.

Dario foi rápido em restabelecer a vida normal, ele era muito eficiente quando queria. O muro que dividia a cidade desapareceu tão rápido quanto surgiu e o comércio de mercadorias recomeçou a todo vapor. Os meses passaram rápido e num dia frio e chuvoso Milo voltou a ver o pai pelo espelho do palácio:

- Seu irmão nasceu hoje pela manhã.- Dario falou de maneira rápida e tranquila. Parecia genuinamente feliz. Seus ferimentos estavam curados, pois os fandans se curam rapidamente e são imunes a várias doenças.

- Meus parabéns! - Milo falou automaticamente, mas sentiu aquele sentimento ruim voltar com tudo, Mara estava com a razão de novo, ele tinha ciúme daquele bebê. Dario encarou Milo de um jeito demorado e pela sua expressão estava entendendo o que se passava. É praticamente impossível esconder alguma coisa dele, pensou Milo. Sentiu o rosto ficar vermelho.

- A mãe e o bebê estão bem? - Ele tentou disfarçar se virando um pouco na cadeira, estava pouco à vontade.

- Sim. Estão dormindo agora. - Dario fez uma pausa mas não tirava os olhos de Milo - Eu não tinha me dado conta... Seu filho vai ter um tio mais jovem que ele mesmo!

Era verdade! Antes que Milo falasse mais alguma coisa, Dario deu um belo sorriso e continuou:

- Estou ainda mais feliz agora, ao ver que tem ciúme de seu novo irmão. Isso quer dizer que eu e sua mãe ainda temos chance com você, apesar de tudo.

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