Adeus passado, meu futuro chegou! P-87

Quando o barco chegou na ilha seguiu direto para Esmirna. Lá alguém esperava ansioso pela chegada da fandan resgatada da cidade humana, Hayden, pois era ele, esperava por este momento já há algum tempo, na verdade desde que retornara a ilha; finalmente iria revelar para a princesa que era o pai dela. Mara era muito pequena quando Hayden foi colocado pra fora de seu próprio país por sua ex-esposa e ex-rainha Melina, porque não concordava com as coisas que ela fazia. Por isso, Mara não lembrava dele.

Quando Milo e Mara pisaram no pier de madeira do porto avistaram logo o pai. Milo já combinara com ele pra que aquele segredo fosse logo revelado. Vários fandans vieram receber Mara, a maioria lhe deu abraços, mas uma grande parte não conseguia esconder uma clara desconfiança estampada no rosto. Mara não chorava mais, sorria bastante, grata por aquela segunda chance na sua vida. Que bom voltar pra casa! Foi abraçando os fandans um por um, até que se viu de frente pra um fandan que não conhecia, mas algo em seu rosto lhe era familiar. Aonde teria visto aquele rosto antes? Ainda olhando pra ele lhe veio uma lembrança: um retrato que vira no porão do palácio, pois todos os retratos de Hayden tinham sido escondidos ali.

- Você é...

- Mara, me chamo Hayden. Eu sou o seu pai.

Mara ficou paralisada, olhou pra Milo que confirmou com a cabeça.

- Mas a mãe dizia que você estava morto.

Hayden deu um sorriso triste:

- Acho que este era o sonho dela: que eu realmente estivesse morto.

Os três se dirigiram ao palácio onde Hayden contou toda a sua estória, o chá de sumiço que levara da rainha. E terminou dizendo:

- Ninguém mais que eu torce por você! Torço pra que você melhore e seja uma boa fandan.

Mara não conseguia deixar de olhar pra o rosto do pai:

- Isso tudo parece um sonho bom, espero não acordar e descobrir que ainda estou na cidade murada.

Ela voltou ao seu antigo quarto no palácio todo enfeitado com suas flores preferidas. Hayden já morava algum tempo no palácio, na verdade desde que a rainha fugiu.

- Vamos ficar de olho nela. - disse Milo ao pai - Muitos aqui vão torcer contra, vão apontar o dedo na menor falha que ela cometer. 

Mais tarde os três almoçavam na varanda quando Mara observou:

- Alana não veio me receber, nem sua namorada Bah.

- Paciência... - disse Hayden

- Você vai ter que conquistar a confiança delas outra vez. - disse Milo - E já lhe adianto que não vai ser fácil. Aliás várias coisas vão mudar por aqui. Você não vai ter a vida de dondoca de antes. Como princesa vai ter várias tarefas e responsabilidades que ficarão ao seu encargo.

Mara fez um muxoxo mas não reclamou, pensou um pouco e perguntou:

- Vocês acham que um dia veremos a mãe de novo?

Hayden já sabia a resposta, mas foi Milo que respondeu:

- Nunca mais a veremos de novo e é bom você se acostumar com isso.

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" A felicidade perderia o seu significado se não fosse equilibrada pela tristeza."

O resgate de Mara P-86

O barco dos fandans, camuflado por magia, estava parado na costa perto da cidade murada.O plano era bem simples, porém perigoso: trazer Mara a bordo, retirar possíveis magias de controle que ela tivesse, e perguntar a ela, claramente, se era de sua vontade voltar a ilha de Solemar. Segundo os marinheiros fandans que observaram Mara e todo o povo da cidade antes, ela costumava passear sozinha na praia por trás do castelo da cidade. Mas os fandans tiveram que esperar dois dias até que Mara finalmente apareceu. Sem mais delongas colocaram o plano em ação. Milo, pessoalmente, foi falar com a irmã, Athina a fez desaparecer rapidamente e assim como todos os fandans Mara ficou invisível aos olhos humanos.

No barco, Mara parecia realmente feliz em ver o irmão e vários outros fandans que ela conhecia. Estava visivelmente abatida e bem mais magra.

- Não aguento mais ficar aqui! É como se tivessem roubado a minha vida. Querem mandar em mim o tempo todo, não tenho mais direito de decidir sobre minha própria vida! - disse ela ao irmão - Não concordo com a maioria das coisas que a mãe está fazendo junto com Margot, elas são implacáveis! E agora, querem me casar com o melhor guerreiro humano deles. Não quero me casar com ele!

Milo olhava muito sério pra ela:

- Viemos aqui apenas por sua causa. Você quer voltar pra casa?

- Quero sim, isso é o que mais quero! - o olhar dela era de súplica - Por tudo que é mais sagrado! Me deixe voltar com vocês!

Um dos guardas chamou a atenção de Milo: vários guardas humanos estavam agora na praia certamente procurando por Mara. Um deles olhava para o mar do alto do muro da cidade, mas seus olhos humanos não percebiam o barco fandan e seus ocupantes. Milo foi rápido:

- Já notaram seu sumiço - disse ele pra irmã, se virou para os guardas e marinheiros -  vamos embora agora!

O barco fez meia volta e se afastou ligeiro em direção a passagem para o mar de dentro. Mara chorava agarrada ao irmão.

- Você não sabe o que eu passei, o que fui obrigada a fazer e dizer... não reconheço mais minha mãe.

- Tudo isso foi escolha sua, eu te alertei várias vezes! Preste atenção: a maioria dos fandans decidiram te dar uma segunda chance, espero que você se esforce pra ser uma fandan bem melhor do que tem sido até hoje. Digamos que sua vida será dividida em duas partes: antes e depois deste dia.

Durante toda a viagem de volta a Solemar, os fandans tomaram todas as precauções pra terem certeza de não estarem sendo seguidos. Quando o barco passou pela linha entre o mar humano e o mar de dentro todos suspirados aliviados: estavam seguros. Mara ainda chorava, mas quando viu a costa de sua terra natal aparecer no horizonte, sorriu de felicidade, enquanto as lágrimas continuavam a cair. Ela nunca tinha dado tanto valor a seu país e a seu povo como agora: as vezes a gente só percebe a falta e a importância de algo ou alguém nas nossas vidas quando este algo ou alguém nos são tirados. Jurou a si mesma ser uma princesa digna e honrada dali em diante! Ela não sabia, mas uma surpresa a esperava na ilha.

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" A vida muda na proporção de sua coragem."

Um segunda chance para Mara P-85

 Apesar da ameaça de guerra, os fandans não perderam a paz. A ilha se fechou a ameaça externa de tal maneira que nada passaria por suas defesas e como eles eram bastante autossuficientes, não precisariam fazer comércio e nem compras em outros lugares para sobreviver. Dos pontos mais altos da ilha de Solemar e de Esmirna a vigilância era constante, dia e noite. Na verdade, apenas um barco entrou no mar de dentro voltando em direção a ilha, foi justamente o barco enviado a cidade murada dos humanos. Milo e a rainha Lara conversaram muito com os quatro marinheiros pra saber mais informações sobre os fugitivos e o rei humano.

- Eles são bastante belicosos - disse o primeiro deles a Milo  - ficaram impressionados com a estória de sua mãe sobre uma ilha mágica que parece um paraíso de onde ela foi deposta do trono injustamente.

- Injustamente? Sei... - Milo sabia que a mãe devia ter mentido e aumentado muita coisa de sua verdadeira estória em Solemar.

- O rei deles parece bastante crédulo, mas eu acho que é só aparentemente, ele ouve e pensa bastante em tudo que lhe dizem. O que eu tenho certeza é que ele é bastante apaixonado pela Margot, sua tia. Dá pra notar até pelo jeito que fala com ela.

Os marinheiros descreveram quais armas e barcos os guerreiros humanos usavam e o número aproximado deles, tanto barcos como guerreiros. Mas o mais impressionante foi o que disseram sobre Mara:

- Em alguns momentos ela parecia magoada e triste, em outros parecia está com muita raiva, mas nas duas ultimas vezes que a vimos ela estava totalmente indiferente, alheia ao mundo a sua volta, nem se mexia. Um dos guerreiros deles estava sempre perto dela.

- Você quer dizer...

- Que o guerreiro parecia bastante interessado nela.

- A mãe deve estar querendo estreitar os laços com este rei casando Mara com um guerreiro importante.  - Milo não pôde conter a raiva que sentiu ao ouvir aquilo - E se ela estava indiferente é porque...

- Deve estar sendo manipulada magicamente - completou a rainha Lara.

Hayden e Bah ficaram estarrecidos com as ultimas notícias. Hayden começou a andar em círculos na sala, não conseguia parar de pensar na filha.

- Meu Deus - disse Bah - Alana também ficava indiferente quando estava sendo manipulada, sua mãe deve ter dado a ordem pra Mara se casar e ela não aceitou.

O falatório foi grande na ilha. Hayden queria ir na cidade humana e trazer a filha de volta.

Os conselhos se reuniram de novo. Alguns diziam que Mara não merecia ser salva porque também era má, embora menos que a mãe. Athina, do alto de sua sabedoria, disse:

- Acho que Mara merece uma segunda chance, todo este tempo ela esteve perto da mãe e das pessoas que a bajulavam, recebeu sua má influencia e aprendeu a ser como ela, mas demonstrou em várias ocasiões que não é como a mãe. Talvez na companhia de bons fandans ela mude e acabe por mostrar seu lado bom.

Milo se levantou e disse:

- Então tá decidido, vamos resgatar Mara da cidade dos humanos.

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" Tudo que se ver é miragem. Procure a essência que não se ver. " 

Na cidade murada P-84

 Conforme entendimento com o conselho de Esmirna em um momento anterior, um barco bem equipado e protegido magicamente foi enviado com quatro soldados fandans em seu interior para averiguar o paradeiro da ex-rainha Melina e seus seguidores. A cidade murada onde Margot era rainha no reino dos homens, ficava situada ao norte, do outro lado do mar de dentro, muitas milhas deveriam ser vencidas para chegar a este destino.

Milo escolheu a dedo os quatro fandans que iriam nesta missão, ele os conhecia muito bem, eram leais e honestos. Estes fandans tinham ido com ele na viagem até a ilha de gelo, primeira morada dos fandans. Milo queria mesmo era ir junto, sua vontade era participar pessoalmente da missão, mas foi aconselhado a não ir e acabou acatando esse conselho.

O barco era camuflado magicamente, mais uma arte mágica de Athina, não apareceria em sua forma e cores originais caso houvesse algum perigo por perto. Então numa manhã clara e sob as bençãos de todos os fandans que estavam no porto, o barco partiu.

Depois do episódio dos tiriosh, as defesas da ilha tinham diminuído, mas agora aumentaram outra vez. Todo um complexo de segurança foi montado para que os fandans, tanto de Esmirna como de Solemar, ficassem tranquilos. A vigilância seria constante e realizada em turnos.

Não demorou muito para que notícias do barco chegassem a ilha... e sim! A confirmação veio: Melina e seus companheiros estavam na cidade humana murada. Milo e a rainha Lara receberam imagens de quase todos os fugitivos e muitas outras imagens vieram depois. A imagem mais impressionante mostrava Melina e Margot sentadas uma de cada lado do rei humano, ricamente vestidas e com um ar de orgulho e  superioridade estampados nos rostos. Mara, sentada mais atrás, tinha uma fisionomia completamente diferente: estava muito séria e não parecia nem um pouco satisfeita.

O fandan responsável pelas imagens explicava que estavam num grande espaço, tipo uma arena, onde todos assistiam apresentações artísticas. Num determinado momento as apresentações terminaram e começou uma demonstração de poder militar: grupos e mais grupos de soldados desfilavam na frente do trono do rei. No final uma grande faixa foi estendida com os dizeres: Conquistaremos outros mundos! Ninguém pode conosco!! 

" Uma pessoa ruim é capaz de tudo, inclusive fingir ser boa."

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