Um novo herdeiro P-118

Margot.

Aquela conversa com seus pais deixou Milo impressionado. Mas o que ele podia fazer?  O olhar dos dois era de desafio e Dario deixou bem claro o que pretendia:

- Você é meu filho mas nós não estamos juntos na vida, não combinamos, não concordamos... O mesmo acontece com Melina e você, nunca se deram bem. Eu preciso de outro herdeiro, entende? Você fica em Esmirna, o trono é seu, mas aqui na cidade murada, eu terei meu próprio herdeiro.

Milo ficou sem palavras, imóvel e sem pestanejar, olhava fixamente para os pais que deram por encerrada a conversa sumindo do espelho. Muito tempo depois um conselheiro entrou na sala:

- Príncipe Milo, o que aconteceu?

Milo finalmente saiu de seu torpor e sacudiu a cabeça:

- Depois eu falo, o que há?

- Um problema urgente com nossa água.

- Certo, vamos resolver.

Milo reuniu todo o conselho no outro dia e também chamou a rainha Lara pra contar as novidades. Bah, Mara e Hayden também estavam na reunião. Depois da surpresa inicial várias opiniões foram dadas. A única que não falou nada foi Mara que parecia em estado de choque. No fim, a grande maioria pensava como a rainha Lara:

- Acho que você não deve se preocupar com isso, Milo. Eles estão na cidade deles e lá são soberanos, podem ter tantos filhos quanto quiserem. Você é o primogênito e nada vai mudar isso. Você já tem o reino principal e também todo nosso apoio. 

- Eu sei. É que ficou muito claro que nunca mais minha família será a mesma, estamos divididos pra sempre. Não há retorno. Eu tinha esperança de me dar bem com meu pai. Agora eu sei que isso nunca vai acontecer. É eles lá e nós aqui.

- Bem, se precisar de um pai eu estou aqui! - disse Hayden.

Os dois se abraçaram. Mais tarde Mara disse pra Milo:

- Acho que sei o que você está sentindo, é uma espécie de ciúme de quem ainda nem nasceu. Mas quando você falou a novidade me lembrei da tia Margot. Se ela se afastou e foi morar só é porque está aprontando alguma coisa. Pode acreditar, ela não vai deixar isso pra lá, vem bomba por aí.

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E com esta parte encerro as atividades deste blog em 2022.

Volto em 2023 no dia 16/01/23.

Boas festas! 

Duas surpresas P-117

Melina adolescente em Esmirna: eu tinha tudo!

Milo não conseguia tirar os olhos da mãe, apesar da resposta ser óbvia, não conseguiu deixar de perguntar:

- A senhora está bem?

- Estou tentando retomar o rumo de minha vida. - Foi a resposta dita em um tom de voz muito baixo. 

Dario olhava de um para outro até que virou pra Melina e disse:

- Melhor contar logo pra ele.

Melina assentiu:

- Milo... Eu e seu pai resolvemos nos casar.

Milo engoliu em seco, mas pensou: "Ela já está separada de Hayden, melhor que se acerte logo com Dario."

- Bem... acho que é melhor assim para todos. - Aí ele lembrou! A tia Margot! - A Margot aceitou bem isso? Vocês estavam brigadas.

- Não! Definitivamente ela não aceitou - disse Melina - Ela resolveu ir embora.

- Embora para onde?

Dario fechou a cara:

- Não se preocupe Milo, ela não vai querer voltar pra Esmirna e vocês não a aceitariam. Ela vai viver numa casa do outro lado da cidade murada, ela prefere ficar longe de nós pra evitar mais atrito.

- Acho que ela foi sensata. Mas a senhora não parece feliz, mãe.

- É que minha vida virou um pandemônio... desde que fui embora de Esmirna. Eu sinto muita falta da vida que eu tinha... e eu tinha tudo! E agora sinto falta deste tudo que eu perdi.

- A senhora sabe que perdeu por sua própria culpa.

O rosto de Melina mudou completamente, agora era a rainha Melina de novo, como Milo cresceu vendo, os olhos brilhavam com algo parecido com raiva:

- Não precisa me lembrar disso! Eu sei! E tem mais, é melhor que você saiba de tudo: eu estou grávida!

😮😮

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Encontro inesperado no espelho P-116

Melina quando ainda era rainha.

Numa noite estrelada em Solemar, quando os filhos já dormiam, Bah conversou com Milo sobre Mara. Ela tinha passado o dia ensaiando como deveria se dirigir a ele, quais palavras usaria, pois sabia que era um assunto delicado. Contou como se sentia com relação aos membros da família dele que não tinham compromisso com o bem e que sabia que Mara fingia ser uma boa fandan.

- Eu entendo como se sente - disse ele pra ela - eu não tenho orgulho deles, sinto vergonha por eles agirem assim. A relação com minha mãe sempre foi difícil, com Mara um pouco mais fácil e com meu pai, já te disse, acho que não chegaremos muito longe. Não posso me responsabilizar por eles, dei chances até demais pra que melhorassem, mas não deu certo. Sei o que te preocupa, mas confie em mim, Mara nunca fará mal ao nosso filho. Ela sabe que nunca a perdoaria. Além do mais proteções pra ele não faltam.

Depois desta conversa Bah conseguiu se acalmar, mas evitava se encontrar com Mara, achava melhor assim.

*********

 Os meses seguintes foram bem corridos pra todos os fandans. As duas cidades prosperavam, o número de fandans crescia e todos se preparavam agora para as festas de fim de ano. Milo e a rainha Lara se davam muito bem como governantes de Esmirna e Solemar, conseguiam se entender perfeitamente. Dario e Milo continuam conversando pelos espelhos, embora o conselho de Esmirna não aprovasse isso, mas foi assim que Milo soube que o porto na ilha negra tinha entrado em funcionamento.

- Nossa... - disse ele para o pai - você foi rápido. Achei que demoraria bem mais.

- O segredo é que arranjei as pessoas certas pra me ajudar, tive qualidade e quantidade de operários para isso. Começamos a compra e venda de mercadorias a menos de dois dias e por enquanto só alimentos passam pelo porto. Nunca vi tantas frutas diferentes e exóticas. - Ele olhou pra Milo demoradamente - Acho que você deveria repensar o que me disse lá. Vocês ganhariam em conhecer novos sabores e nós fandans exilados poderíamos comer os alimentos daí que temos saudade, porque por aqui não tem. Se você não quer barcos estranhos em seu porto, venha a ilha negra e a gente negocia.

Milo prometeu que iria ver isso com o conselho e com a rainha Lara. Ele já ia acrescentar que precisava ir quando uma fandam apareceu por trás de Dario no espelho. Milo se assustou com seu semblante pálido, magro e triste:

 - Oi mãe!

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É preciso correr riscos. Só entendemos direito o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça. Paulo Coelho

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Desabafos P-115

Uma boa conversa pede um bom café!

A conversa com Athina continuava. Após confessar o medo que tinha sobre Milo, Bah caiu em si:

- Não! Acho que lá no fundo eu não acredito que Milo seja um fandan ruim. Mas é que boa parte da família dele é...

- Também não acredito que ele tenha má indole e esteja escondendo isso. Ele nunca demonstrou qualquer maldade, sempre foi justo e correto. - Athina pegou as mãos de Bah e olhou nos olhos dela - Bah, você tem uma intuição poderosa, se ele fosse sonso você já teria descoberto isso! E tem a Marta, tia dele, tem a Alana e os irmãos, todos são bons fandans. 

- Sim, eu sei. - Os olhos de Bah se arregalaram , um novo pensamento saiu em forma de palavras - Meu filho com ele! Será que também será um bom fandan?

- Claro que será! Tenha fé! Ele terá excelentes exemplos de vida, a começar pelo seu próprio exemplo como mãe!

Bah ainda chorou por algum tempo:

- Desculpe Athina... Mas eu precisava desabafar. Ultimamente depois da Rainha Melina e de Dario... e agora Mara outra vez... Não sei... fiquei me questionando se eu fiz uma boa escolha com Milo. 

- Eu entendo, não se desculpe por isso. Eu também ficaria preocupada. Aliás você não sabe como lhe entendo! Lembra de Lyam? Meu neto virou um assassino! Aquilo foi horrível, nunca vou esquecer! 

Ela fez uma pausa e seu rosto ficou muito sério:

- Estive pensando em todo este mal que anda aparecendo por aqui na ilha. Ele sempre esteve aqui escondido e nunca notamos? O que fez o mal aparecer? Sim, de vez em quando aparecia um fandan cheio de maldades e o que sempre fizemos?  Cortamos o mal pela raiz, ele era expulso de nosso convívio como se extirpa uma praga, mas ultimamente tem aparecido cada vez mais. Nós fandans, sempre nos orgulhamos por sermos um povo bom, justo, correto e cheio de amor em suas várias formas, desde o amor pela natureza em geral até o amor fraternal que sempre nos uniu... o que está acontecendo conosco?

Bah assentiu concordando com Athina. Era uma boa pergunta e tanto ela como Athina não sabiam a resposta.

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Medo e confissão P-114

Casa de Athina

Depois daquela constatação, Bah sentiu necessidade de falar com alguém, pedir uma opinião sincera. Será que só ela via Mara como realmente era? Será que Milo também tinha percebido aquilo? Ela sabia que Milo era muito perspicaz, talvez até mais que ela própria, diziam em Esmirna que ele tinha visão de raio X, não se enganaria com a própria irmã. Será que estaria fazendo vista grossa? Melhor não falar com ele, nem com Alana também, eram todos da mesma família afinal. Syl era muito fofoqueira e aquela conversa precisava ficar entre quatro paredes...

No dia seguinte, ao acordar, soube com quem deveria falar, a ideia simplesmente surgiu em sua mente. Mandou um recado pra Athina e naquela tarde, numa folga de tantos afazeres, tomou o caminho pra casa dela. O vento soprava forte, uma nuvem escura de chuva se aproximava rapidamente e as folhas secas das árvores dançavam na trilha ao sabor do vento. Mal teve tempo de alcançar a varanda da casa e a chuva caiu. Athina a esperava com o sorriso de sempre estampado no rosto.

- Que família complicada em? - disse ela após Bah contar sua descoberta. - Mas sabe o que mais? Eles são maldosos, mas tem um carisma enorme! Me envolvi com o pai de Dario, como você sabe... e o que eu sentia por ele era tão envolvente, forte e verdadeiro...  mas com o tempo percebi que estava me sufocando, que aquele sentimento ia acabar comigo, como eu fazia parte da corte não conseguia me afastar dele, chorava todo dia, mas depois que ele se casou com a mãe de Dario as coisas se resolveram porque eu enfrentei aquela fandan...  e isso acabou me curando do sentimento que sentia por ele.

- E quanto a Mara?

- Acho que você está certa. Mara veio pra cá porque não estava conseguindo viver com dignidade na cidade murada, a mãe e a tia brigavam com ela e Dario não gostava dela, a chamava de fraca. Ela não tinha outro lugar pra ir, tinha que voltar pra cá, mas sabia que precisava se comportar, manter a compostura, ou não seria aceita aqui também. Sim, ela finge ser boa. E não é só você que sabe disso. 

- Por todos os deuses, Athina. Tenho medo do que ela pode fazer.

- Não tenha medo! Você sabe se defender muito bem, pode proteger a si mesma, seus filhos e sua família. Mara não tentará nada contra vocês, ela teme o irmão, agora mais do que nunca,

- Tenho um medo ainda maior... - Bah fez uma pausa e seus olhos se encheram de lágrimas - Tenho medo de descobrir que Milo também é maldoso e todo este tempo fingiu ser bom.

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Mara tem duas caras? P-113

Convivendo no palácio, Bah descobriu muito da rotina das pessoas que viviam e trabalhavam ali. A maioria dos funcionários obviamente trabalhava durante o dia em turnos de 12 e 6 horas, chegavam as 6 da manhã e saíam as 18 horas. Eram cozinheiros, costureiras, arrumadeiras, guardas, administradores... Os funcionários do turno noturno eram poucos, quase todos relacionados a segurança e vigilância. Ela mesma não era funcionária daquele castelo, seu trabalho relacionado ao grupo feminino EVA era dado em outro castelo: o de Solemar, pois nascera nesta cidade, não em Esmirna. No entanto, era princesa consorte de Esmirna pois era parceira de Milo, mãe de seu primeiro filho, então passou a exercer algumas funções em Esmirna também. As funções eram burocráticas e ela dividia as mesmas com Mara, que pra todos os efeitos era a primeira princesa de Esmirna. Mara estava surpreendendo de muitas maneiras, os fandans que a conheciam desde sempre diziam que ela realmente mudara e a incentivavam a permanecer assim. Mas com Bah, Mara mantinha uma conversa apenas trivial, corriqueira. Bah percebeu que talvez nunca fosse amiga da cunhada, elas olhavam uma para outra com desconfiança, o sentimento era recíproco.

Já com Alana tudo era mais fácil, havia uma aproximação maior e o relacionamento delas era cordial. Alana parecia ter superado o fato de um dia ter gostado de Milo e ter desejado ser namorada dele. Bah soube que ela estava se encontrando com um fandan do castelo que trabalhava na contabilidade junto com Erik, o primeiro namorado de Bah.  A tia de Milo, Marta, estava muito feliz com isso:

- Minha mãe me abraça todo dia e me deseja sorte com o namoro. Todos nós, lá em casa, queremos esquecer as tias ruins que agora moram longe daqui, quero passar uma borracha nessa fase ruim da minha vida. - disse Alana pra Bah.

 A comemoração do primeiro aniversário do segundo filho de Bah aconteceu por estes dias, o aninho filho de Milo ainda não tinha nome, mas crescia rápido e era muito saudável. A casinha da floresta ficou cheia com a família de Bah, Athina e Syl, como também Marta, Alana e Mara. Vários outros fandans também estavam por ali, Erik que não perdia a chance de ficar perto do filho também. Era a primeira vez que Mara via o sobrinho, Milo a incentivou a pegar a criança no colo, Bah vendo aquilo tentou sorrir, mas não pode evitar de se sentir tensa com a cena. Na sua mente a memória de Mara dizendo que aquela criança não devia nascer quando ela ainda estava grávida, voltou com riqueza de detalhes, por um momento terrível pareceu que a rainha Melina estava ali ao lado da filha... piscou, não... era só Mara que constrangida ainda segurava a criança, mas logo a passou para o pai. Bah suspirou aliviada, mas o aviso em seu coração tinha tirado suas dúvidas, ela agora tinha certeza: Mara não era uma boa fandan, apenas fingia ser.

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Desconfiança P-112

Que tal um chá com biscoitos?

Depois daquele ultimo encontro com o pai na ilha negra, Milo voltou pra Esmirna e se concentrou em colocar sua tarefas em dia. Dario continuou no seu projeto de reformar o castelo e criar um porto comercial na ilha negra, era um projeto grandioso e trabalhoso, ele sabia disso, levaria anos pra concretizá-lo. Pra começar um porto marítimo precisaria de muitos marinheiros e funcionários, vários humanos teriam que se mudar para a ilha para que a idéia saísse do papel. No fim de vários meses a reforma do castelo seguia em um bom ritmo, olhando do mar já era possível ver as melhorias que tinham sido terminadas, mas o porto só tinha seu local definido: um pequeno ancoradouro na praia mais tranquila da ilha.

Milo percebeu um certo distanciamento entre ele e o pai depois da ultima conversa. Ele tentava ver o lado bom dele, suas qualidades, mas parecia que os defeitos sempre se destacavam e eram defeitos graves.

- Acho que meu relacionamento com ele não vai evoluir. - Milo confidenciou pra Bah numa tarde de domingo quando relaxavam no jardim da casinha da floresta - Estamos sempre batendo de frente.

- Eu sei como é isso. Nunca me dei muito bem com minha mãe... Tenho um relacionamento muito melhor com Vó Fah e com Milka minha tataravó. Tenho duas irmãs muito apegadas a nossa mãe, mas eu não sou assim... Tenho o maior respeito por ela, mas é só...

Milo ficou pensativo mas não disse mais nada.

 Naqueles ultimos dias, já que a rainha Melina estava longe dali, Bah  estava participando cada vez mais das atividades no castelo de Esmirna e se encontrava com frequência com Mara, irmã de Milo. Alana também voltou ao convívio no castelo, Bah percebeu que ela tinha mudado muito, estava muito desconfiada, a amizade com Mara era relutante, mas estava fluindo mesmo que devagar. As duas pareciam se esforçar em se aproximar de Bah e esta sentia que a tentativa de aproximação era realmente sincera, sem interesse. 

- Estou me esforçando pra mudar minha vida, meu modo de ser. - disse Mara pra Bah e Alana, as três tomavam chá com biscoitos no pátio do castelo. - Agora estou cercada de boas influências. Converso muito com meu pai e meu irmão, mas precisava de companhias femininas, como vocês duas.

As três conversaram bastante. Bah achou que aquela cena era surreal, incrível mesmo. Lembrava vivamente de uma vez que vira  Alana e Mara conversando num restaurante sobre ela... Será que estavam lhe enganando??... Não! Sua intuição nada lhe dizia, mas mesmo assim... Observou atentamente o rosto de Mara, os gestos, a entonação da voz... nada! Tudo lhe dizia que não era encenação, era real... Mas... Por que ela não acreditava no que estava vivendo naquele momento?

" Desconfiar é pior do que saber. A realidade tem limites, a imaginação não."

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Gafe P-111

Após o episódio de Athina, as coisas se acalmaram em Solemar e Esmirna. A avó de Milo foi libertada da maldição pela própria Athina a pedido de Milo que a ajudou no processo. Dario conversou muito com a mãe na manhã deste acontecimento e na hora da magia libertadora ficou de lado apenas observando, pois tinha descoberto que a magia era mais eficaz se fosse feita por Athina, segundo ele, causadora daquilo tudo. Quando tudo acabou, Athina voltou para o barco retornando pra Solemar e Milo ficou com o pai na ilha negra. Os dois estavam sentados em um banco do jardim olhando para o mar lá embaixo.

- No fim tudo terminou bem-disse Milo.

Dario não respondeu parecia distante dali, tinha a mente em outro lugar.

- Você tem planos pra este castelo, sua meta é recuperá-lo? - Milo tocou o braço do pai. Dario finalmente respondeu:

- Ah sim! Recuperação total. O castelo não ficará como era antes, ficará melhor do que era antes! - O entusiasmo dele era contagiante. Ele olhou pra o filho:

- Essa ilha pode ser um porto comercial, onde não só Solemar, Esmirna e a cidade murada possam comercializar mercadorias, mas outras cidades também.

Milo não gostou da ideia:

- Pai, nós não precisamos disso. Nos viramos muito bem sozinhos. Se você quiser faça isso, mas nós não vamos participar. Você sabe que os fandans sempre viveram separados, não queremos nos misturar. É uma das nossas leis mais importantes, feita pra manter a vida como sempre foi, desde os tempos antigos, dentro do bem e de tudo que é bom... e mesmo assim o mal sempre dar um jeito de aparecer... - Ao dizer isso Milo percebeu que cometera uma gafe com o próprio pai. Dario olhou pra ele como se olha para um estranho:

- Mesmo assim na sua família o mal apareceu como nunca, não é mesmo? Apareceu e tomou conta de vários membros... Me diz uma coisa Milo, como você acha que deve acabar com o mal que assola sua própria família?

Milo sentiu a cabeça rodar, ficou sem palavras. Não ousava dizer a resposta.

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Inocentada P-110

Depois daquela revelação Athina foi chamada pra dar sua versão da estória. Bah achava que a conhecia muito bem, por isso quando soube que ela teria sido a fandan que lançou a maldição sobre a avó de Milo, não acreditou. Eles voltaram pra ilha de Solemar. Logo depois o conselho de Esmirna e Solemar foram chamados para uma reunião junto com a rainha Lara e Milo. Dario, proibido de entrar na ilha porque as pazes só tinham sido feitas com o filho, iria participar desde a cidade murada através de um enorme espelho.

Athina estava sentada no meio de um círculo formado por todos estes fandans citados anteriormente e parecia muito calma, até sorria de vez em quando. Dario leu a acusação redigida por ele em nome da mãe, sua voz tinha um tom acusador e frio, pra ele Athina já estava condenada, nem por um momento ele duvidou que aquilo não poderia ser verdade. Mas todos os outros fandans acreditavam no contrário, Athina tinha uma reputação excelente nos dois reinos.

Quando Dario terminou, Athina foi convidada a falar e se defender:

- Eu só tenho que confessar uma coisa - disse ela - eu era apaixonada por seu avô, príncipe Milo. Foi extremamente difícil aceitar a escolha que ele fez pra se casar. Desculpe dizer isso - ela não olhava pra Dario - mas sua avó era muito ardilosa, ela se convenceu que eu só ia pra ilha pra tentar reconquistar o marido dela. Mas eu ia pra ensinar magia, era isso que eu fazia na corte, mas nunca ensinei nada pra ela nem pra seu avô, eu não me aproximava de nenhum dos dois. Mas ela queria me prejudicar de alguma maneira, se não bastasse as fofocas que ela espalhava, sempre falando mal de mim... um dia ao voltar pra a sala onde guardava meus objetos de aula encontrei tudo destruído e fiquei transtornada, foi quando lancei uma magia contra ela da qual me arrependo até hoje. Eu estava cansada de aguentar tudo aquilo quieta e calada. Ela ficou irada comigo e me lançou a maldição de morte bem no meio do pátio do castelo, alguns fandans viram e podem ser minhas testemunhas, eu apenas me defendi, a maldição ricocheteou e voltou pra ela, bateu bem no meio do peito. 

Um silêncio pesado caiu na sala de reuniões. Milo estava lívido e Dario vermelho de raiva.

- Como ousa acusar minha mãe desse jeito? - disse ele - Ela é a vítima desta estória, não você.

- Isso depende do ponto de vista de cada um - disse um dos conselheiros de Esmirna.

- Bem... - Milo se recuperou - Os fandans que viram tudo que aconteceu estão aqui.

Um após o outro os fandans repetiram a mesma estória da magia que ricocheteou, eles não podiam mentir pois estavam sob efeito de uma magia que impedia que isso acontecesse.

Dario sabendo como tudo aquilo iria terminar, sumiu do espelho. Athina foi absolvida!

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Milo e Dario se unem P-109

Assim que Dario terminou de falar os guardas e Milo já estavam com as armas prontas e em posição de defesa. Vendo aquilo Dario levantou os braços pra cima em sinal de rendição:

- Calma, calma... Eu voltei em paz! - disse sem se abalar. 

- O que você quer? - perguntou Milo.

- Acabei de dizer isso, concordei que devemos livrar minha mãe dessa maldição. Isso já durou tempo demais. Seu espírito merece descansar em paz. - E vendo que ninguém baixava a guarda continuou - Vamos, vamos... Não vou poder ajuda-la se não me der um voto de confiança. Não vai conseguir fazer isso sozinho. E vai ter que retirar o círculo mágico também.

Milo olhou para os outros fandans, ninguém parecia disposto a correr aquele risco. Lembrou que a lábia de Dario sempre foi muito boa. Ele continuou a falar:

- Andei pesquisando muito e descobri a magia certa pra livrar minha mãe desta prisão, ela não pode sair da dimensão em que está sozinha, mas preciso de ajuda, da sua ajuda. - Ele passou a explicar o que deveriam fazer. - Quando vi você na ilha percebi que finalmente chegara a hora de acabar com a maldição, então fui buscar isso aqui...  - Tirou do bolso um objeto comprido, quem sabia o mínimo de magia reconheceu o que era: uma varinha mágica usada pra canalizar magia de dois fandans ao mesmo tempo.

Milo lembrou da promessa que fizera a si mesmo, dar uma chance ao pai:

- Está bem, vamos fazer isso. - disse ele pra Dario - Veja bem, estou lhe dando um voto de confiança, se você  vier com segundas intenções, nunca mais lhe darei qualquer chance. Vocês todos vão pra outra sala. - Os fandans se apressaram pra sair dali, só Bah ficou. Milo olhou pra ela longamente - Não é hora de ser corajosa, vá também! - Bah hesitou de novo, mas se afastou.

Os fandans ficaram assistindo de longe: Milo afastou o círculo mágico até onde eles estavam e aí Dario fez algo rápido e inesperado... abraçou o filho com força, longamente, chegou a levantar Milo do chão. Depois segurou o rosto de Milo entre as mãos e olhou pra ele bem de perto.

- Finalmente posso chegar perto de você! - disse ele sorrindo.- Não vou lhe decepcionar, obrigado pela confiança. - Milo também sorriu constrangido - Certo, vamos lá. - Dario fez um gesto e o fantasma feminino reapareceu diante deles, estava bem no canto do salão. Ela se aproximou tão rápido que Milo se esquivou involuntariamente para trás. Os olhos brilhantes focaram em Milo extasiados:

- Você é muito parecido com Dario e com minha mãe, mas tem uma energia diferente. - A voz era estranha, mas bastante clara, o fantasma se virou pra Dario - Gostaria de conhecer minha neta também, antes de ir para sempre. 

- Mara? Não sei se isso será possível.- disse Milo - Me responda uma coisa... quem fez isso com você?

O semblante da fantasma mudou completamente, agora estava transtornado:

- O nome dela? - insistiu Milo.

- Athina!! 

Athina: veja legenda sobre a personagem na lateral do blog.

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A estória por trás da assombração P-108

Bah, sempre observadora, ela sempre tinha presença de espírito e conseguia pensar racionalmente mesmo em momentos de pavor, notou duas coisas interessantes: a assombração não passava da porta de entrada do salão, permanecia lá estática, sinal que o círculo mágico realmente funcionava, e o retrato da criança na parede, que supostamente era da avó de Milo, agora estava vazio, apenas a moldura se encontrava no local!

Todos estavam acordados agora, ninguém ousava se mexer, olhavam fixamente pra assombração que olhava pra eles de volta. Até que a figura quase transparente ergueu um braço tentando romper o círculo mágico, que  resistiu três vezes, Milo sentindo que a magia do círculo iria se quebrar levantou a mão e pronunciou uma frase mágica  poderosa, a assombração se afastou pra trás com um grito agudo e estranho que arrepiou os cabelos de todos os fandans da sala, atravessou a parede e sumiu.

Houve um murmúrio geral de alívio:

- O que ela pretendia fazer com a gente? - Perguntou Milka tremendo.

Milo se virou devagar, sua expressão era de raiva, não de medo:

- Estou cansado de bater de frente com membros ruins de minha família. Estou envergonhado também, que família problemática é essa? Pelos deuses! 

Todos baixaram a cabeça em respeito, o príncipe tinha razão.

- Milo, você não tem culpa de nada - Bah lhe deu um abraço - Você é um excelente fandan e tem uma tia que é muito boa fandan também, sua irmã está se redimindo...sua prima Alana também...

- É, eu sei, eu sei...

- Será que você poderia contar a estória de sua avó? Como ela veio pra cá e acabou ficando aqui pra sempre?

- Não há muito o que contar. Como eu disse antes, a família real sempre vinha pra este castelo, passavam temporadas e faziam magia por aqui... Minha avó não gostava de uma fandan da corte, as duas nunca se deram bem, ela queria que a fandan não viesse mais com a comitiva real para a ilha e o castelo, chegou a pedir para meu avô, o rei, que a impedisse de vir, mas não foi atendida. Um dia, esta fandan muito atrevida, fez uma magia contra minha avó que revidou lhe direcionando uma maldição: ela morreria e ficaria pra sempre presa no castelo. Ninguém sabe o que aconteceu ao certo, mas a maldição se virou contra minha avó que morreu cedo e virou o fantasma que assombra este lugar. - Ele parou e olhou pra todos - Vocês sabem o que eu realmente quero fazer aqui? Quero acabar com esta maldição e fazer minha avó descansar em paz.

- Muito bem, estão vamos fazer isso agora! - Era Dario que tinha voltado e estava parado no mesmo lugar onde a assombração estivera antes.

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A assombração P-107

 Era surreal ouvir aquilo, então o castelo era assombrado por um fantasma de uma fandan da família real de Esmirna?

- Milo, está falando sério? - perguntou Bah.

- Sim, estou. Cresci ouvindo estas estórias de assombração. Eu sempre tive receio desta ilha e deste castelo. Hoje, aqui e agora, não parece assim tão ruim...

- De fato - disse Frei - aqui é tranquilo, as vezes tranquilo até demais. Mas agora entendo os humanos que vivem aqui na ilha e que por nada no mundo entram neste castelo. Eles devem saber das mesmas estórias assombradas.

O grupo ficou muito tempo explorando cada cantinho do castelo que era bem maior do que parecia antes. A vista da ilha era linda de qualquer ponto do lugar, era possível perceber quem estava chegando ou indo embora. Com uma boa vigilância aquele lugar era seguro pra ficar por um bom tempo.

- Que tal passarmos a noite aqui? - sugeriu Milo.

- Pelos deuses, eu preferia que fosse em qualquer outro lugar - disse Milka.

- Eu acho uma ótima idéia - disse Bah - Vamos Milka, estou lhe desconhecendo, por onde anda minha tataravó corajosa?

Começou a chover e ventar bastante, então Milka não tinha o que argumentar pra sair dali. Eles voltaram para o grande salão onde estava o retrato e limparam a mesa pra fazer a ultima refeição do dia. 

- Temos que agradecer ao seu tio, senhor príncipe, por ter recuperado tão bem este salão. - disse um dos guardas.

- Mas acho que ele estaria radiante se estivesse aqui nesta mesa e todos vocês ao redor dele, e claro, com o senhor, meu príncipe, sentado no seu lado direito. - disse o capitão do barco.

Milo fez que sim com a cabeça, mas nada disse. Ele tinha a sensação forte e certa que a situação com o pai tinha que mudar, ele estava com pena de Dario agora, tinha que dar uma chance pra ele.

A noite chegou e todas as precauções foram tomadas, o círculo mágico foi traçado ao redor de todo o salão, eles afastaram a mesa e se deitaram todos juntos no meio do salão. O mesmo sistema de vigilância da primeira noite na ilha foi iniciado. As horas foram se arrastando devagar, Bah caiu logo no sono e Milka se pegou olhando pra cada canto escuro do salão. Acabou cochilando, mas acordou logo depois ouvindo algo estranho: parecia algo arrastando no chão. Abriu os olhos e viu Milo de pé em frente a porta principal do salão, seu companheiro de vigia parecia paralisado ao seu lado. Bah acordou e Milka apontou para os dois fandans parados olhando para alguma coisa que elas não conseguiam ver. Neste momento Milo se afastou um pouco para o lado direito e elas viram: uma fandan adulta de cabelos pretos e de corpo quase transparente estava parada ali, olhava para todos no salão mas sempre voltava a olhar pra Milo, seus olhos pareciam duas chamas na quase escuridão.

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O retrato do castelo P-106

 Milo suspirou fundo quando Dario desapareceu, sentiu alívio, mas havia outro sentimento que não entendia muito bem... Será que tinha exagerado na desconfiança e nas defesas? Encostado em uma árvore observou quando os companheiros de viagem voltaram a clareira, Bah devolveu o olhar dele e Frei falou:

- Que susto! 

- Milo...  - disse Bah - Dario parecia realmente decepcionado e magoado com você por ter tanta desconfiança dele.

- É, eu percebi... Mas com o histórico dele não posso agir de outra forma. Vamos continuar. - disse aparentando frieza.

Todos se alinharam na passagem estreita da floresta fechada até o centro da ilha. O local onde Frei antes plantava e fazia testes com hortaliças estava verde e tranquilo, a temperatura subia rápido mas ainda estava fresco. 

- Vocês ainda querem ir ao castelo? - Milka perguntou com medo da resposta.- Dario vai está lá, com certeza.

- Não vai, não! - Disse um dos guardas que tinham vindo com eles apontando para baixo da orla da floresta onde ele se encontrava. Todos correram pra ver: lá embaixo viram Dario indo embora em um barco pequeno e robusto, ele manobrava rapidamente na direção das ondas e em pouco tempo o barco sumiu no horizonte. Milo suspirou outra vez:

- Vamos ao castelo.

O castelo tinha sido magnífico em seu auge, agora estava deteriorado, mas ainda era bonito e digno de uma visita. Quase não havia móveis nem decoração, algumas janelas e portas estavam quebradas, mas no salão principal havia uma enorme pintura na parede: era uma figura feminina infantil, morena e séria. Dava pra ver que naquela parte do castelo haviam sido feitas muitas melhorias, até o piso estava mais limpo e brilhava como se tivesse sido encerado. 

- Dario esteve bem ocupado por aqui - disse Bah.

Milo não conseguia tirar os olhos da figura na parede:

- Conheço esta fandan, ou pelo menos, alguém muito parecida com ela.

- De quem era este castelo, principe? Quem construiu este lugar?

- Não sei quem construiu, foi encontrado há muito tempo atrás abandonado. Os antigos reis e rainhas de Esmirna recuperaram o castelo e vinham passar temporadas aqui, neste tempo a ilha não tinha o nome e o mau agouro que tem hoje. Depois passaram um bom tempo sem vir aqui, o castelo ficou abandonado de novo...  Ah, é claro!

Todos olharam pra Milo sem entender:

- Já sei quem é a fandan na pintura da parede. É minha avó quando era muito jovem.

- Não é a toa que Dario recuperou o retrato e tudo ao redor, afinal é mãe dele. Ela morreu em Esmirna? - perguntou Frei.

- Não, morreu aqui, dizem que o fantasma dela assombra este castelo.

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Uma conversa difícil P-105

Ilha negra.

Houve alguns segundos de tensão na clareira, todos ficaram imóveis. Em seguida Dario desceu de onde estava e foi ao encontro de Milo. Eles olhavam um para o outro como se estivessem sozinhos, os outros não importavam pra eles naquele momento. A medida que se aproximavam entre si os outros se afastaram. Bah fez sinal pra que todos ficassem longe e deixassem pai e filho conversar. Dario olhava pra Milo fascinado:

- Por todos os deuses! - disse ele com os olhos brilhando de alegria - Até que enfim vejo você pessoalmente! - Tentou pegar as mãos do filho, mas Milo se afastou, ele se mantinha extremamente cauteloso, continha suas emoções ao máximo ao mesmo tempo que vigiava cada movimento de Dario.

- Você sabia que eu vinha para a ilha negra?

- Na verdade, não. Eu tive uma intuição que você viria. Era o que eu faria em seu lugar, iria checar o local de um possível encontro ou viria pelo simples prazer de uma aventura num lugar desconhecido. Pelo jeito você se parece comigo nisso também. Eu só não esperava você por aqui tão cedo. Sabe, eu venho sempre aqui, digamos que agora a ilha negra é minha segunda casa. Às vezes - Dario andava em círculos pela clareira - a cidade murada me cansa demais, você sabe que governar não é fácil, então venho pra cá colocar meus pensamentos em ordem e ficar um pouco sozinho. Estou reformando o castelo, quero que ele volte a sua antiga glória - completou com um sorriso de dentes perfeitos.

Dario parou de andar e olhou pra Milo desta vez com uma certa irritação:

- Você vai ficar me tratando como um criminoso, cheio de defesas contra mim? Eu sou seu pai, Milo! Não mereço nenhum abraço?

Mas Milo não relaxou nas defesas:

- Desculpe, mas não costumo abraçar quem não confio. Sua reputação é péssima em Solemar e Esmirna. E sim, também tenho intuição e sinto que não posso relaxar com você.

Dario fechou a cara e seus olhos se estreitaram:

- Você acha que eu faria mal ao meu próprio filho? Um filho que sempre desejei ter? Eu tinha uma enorme frustração por não ter um filho pra chamar de meu! Você mudou minha vida quando soube!

- Eu entendo você neste ponto, eu já sou pai e amo meu filho. Mas você também mudou minha vida a até agora não foi pra melhor. Hayden era perfeito como meu pai. Ele é um fandan de caráter irrefutável...

Ouvindo isso, Dario ficou muito vermelho, seus olhos chisparam de raiva:

- Pois fique com ele! Não precisa se esforçar pra me dar uma chance!

Dizendo isso Dario deu as costas pra Milo e sumiu por entre as árvores tão rapidamente quanto tinha chegado.

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Na ilha P-104

A cabana da ilha

Ao ver a luz na janela do castelo abandonado na ilha negra, Milo pôs todos em alerta:

- Não sabemos quem está lá, então vamos ficar preparados pra tudo.

- Os humanos que moram na ilha não entram no castelo. - disse Frei.

- Eles podem ter mentido pra você. - respondeu Milo, muito mais acostumado a artimanhas de gente má que Frei.

- Uma coisa é certa - disse o capitão do barco - Seja lá quem for já nos viu. Aqui no mar é fácil nos ver de qualquer ponto da ilha.

Eles se aproximaram da praia, que estava calma com a maré baixa, com todo cuidado. O capitão ancorou o barco num ponto cheio de vegetação pra tentar esconder a presença deles.

- O que pretende fazer agora? - Perguntou Bah a Milo - Ir até o castelo?

- Não. A noite está chegando depressa, vamos para o abrigo que o Frei tem aqui na ilha. Cada um pegue suas coisas e vamos começar a andar, sem perda de tempo.

Chegaram no abrigo, uma cabana muito bem construída no alto de uma colina e com espaço suficiente pra vários fandans, a tempo de aproveitar o resto da luz do dia para dar uma boa olhada ao redor da mesma e se certificarem que estavam sozinhos e então arrumar a própria cabana pra passarem a noite. Estava tudo tranquilo e silencioso, o nevoeiro agora aumentava. Os fandans se protegeram com um grande círculo mágico, de pelos menos 50 metros, ao redor da cabana pra terem certeza que não seriam incomodados por ninguém na calada da noite. Foi estabelecido que os fandans vigiariam durante a noite em turnos ininterruptos de revezamento. Os dois primeiros fandans entraram imediatamente em ação assim que a noite caiu completamente. Enquanto isso os outros comiam ou tomavam banho.

A noite avançou rapidamente sem nenhum problema. Milo combinou com todos que no dia seguinte iriam andar pela ilha pra explorar cada canto e sim, iriam no castelo. Bah ficou ansiosa, queria que amanhecesse logo, adorava explorar lugares desconhecidos, já Milka não conseguia esconder no rosto um certo medo, um pensamento recorrente não a deixava em paz:

- Bah, é Dario que está no castelo, tenho certeza! 

- Não dar pra ter certeza! 

- Ele deve vir aqui sempre! Deve conhecer bastante a ilha.  Eu soube que ele sabe manobrar um barco pequeno sozinho, tem braços muito musculosos porque faz isso desde pequeno. Os capitães de Solemar e Esmirna dizem até hoje que ele é um dos melhores marinheiros que já conheceram.

- Bem... Vamos saber em breve.

Milo se levantou perto das 5 da manhã pra seu turno de vigia. Um pouco depois que começou a ronda sentiu que havia mais alguém ali, alguém estranho ao grupo. Redobrou o cuidado e apurou a visão, a névoa não lhe atrapalhava pois a visão de um fandan é mais apurada que a humana. Mas não viu ninguém e a impressão sumiu. 

Pela manhã todos se prepararam pra caminhada pela ilha e Milo achou melhor não contar pra ninguém a impressão que tivera. Só iria causar pânico. Frei tomou a dianteira guiando todos ao centro da ilha. Quando estavam passando por uma clareira baixa a impressão voltou pra Milo mais forte que nunca, ele se voltou pra trás bem no momento que uma figura alta de cabelos negros apareceu entre duas grandes árvores. Era Dario.

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Aventura chegando! P-103 e mudança de template

Entrando no mar de dentro

Frei foi chamado ao palácio de Esmirna. Estava nervoso quando entrou pois nunca antes havia conversado com a realeza. Milo tratou de acalmá-lo: 

- Quero apenas que me fale tudo que sabe sobre a ilha negra.

- Ah sim! É uma ilha quase inóspita bem no meio do mar de dentro. É rodeada de imensas pedras negras, por isso que ao vermos de longe ela parece negra e perigosa. Mas há duas praias relativamente calmas onde é possível aportar e no interior há uma imensa planície onde o solo é relativamente fértil e é possível plantar satisfatoriamente. É praticamente desabitada e há um castelo abandonado no alto de uma das pedras mais altas.

- Quem mora lá?

- Da última vez que fui lá apenas dois humanos e eles não me pareciam muito amistosos. Tinham muito medo do castelo e nunca entravam lá. Disseram que foram pra ilha porque gostavam de ficar sozinhos, mas pra mim eles estavam fugindo de algo errado que fizeram e foram se esconder lá.

- Quero que você venha comigo, vou até a ilha negra.

Frei não se negou a ir, mas disse que precisava organizar seu comércio de hortaliças antes de ir.

******

Milo entrou na casinha da floresta dizendo pra Bah que iria tirar umas férias de 15 dias. Milka já tinha contado tudo pra ela sobre a visita de Frei ao príncipe, ela não foi pega de surpresa. Só não esperava a pergunta que ele fez:

- Você quer vir também?

Bah sentiu o entusiasmo tomar conta dela, adorava aventuras, quanto tempo não tinha uma!

- Mas eu tenho tanta coisa pra fazer... e como vou deixar nosso filho?

- Sua avó, Milka, sua mãe, Syl... todas podem ajudar a tomar conta dele. Há amas no palácio que podem vir dar uma ajuda. Venha comigo! Vai ser bom sair da rotina e conhecer um lugar diferente.

Bah sorriu de orelha a orelha: - Eu vou!!

Em quatro dias tudo e todos estavam prontos pra partir. Milka disse que iria também e isso deixou Frei mais calmo. Milo disse ao conselho que só precisava descansar um pouco, falou aonde iria mas não disse nada sobre Dario. Na verdade ele não tinha marcado nenhum encontro com o pai, mas a ilha parecia tão sinistra quanto ele e justamente isso o atraía para aquele lugar. 

Partiram, o tempo estava ameno, nublado e sem chuva. O vento estava excelente e em tempo recorde avistaram no horizonte um ponto escuro que foi ficando cada vez maior e mais escuro: a ilha estava coberta de nevoeiro, mas era possível ver uma janela do castelo brilhando, a luz vinha de dentro do castelo. Milo franziu as sombrancelhas: quem estava no castelo com a luz acesa?

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PS:Não resistí e mudei a roupagem do blog! 🤩

O conteúdo da carta e sua consequências P-102

O castelo da ilha negra

Mara já tinha saído da sala quando a carta chegou, então Milo teve a privacidade necessária pra ler a missiva:

Milo

É estranho chamar você de filho quando na ultima carta lhe chamei de sobrinho. A vida trás muitas surpresas, ainda bem que desta vez é uma surpresa boa, muito boa. Sua mãe me confirmou que você é meu filho, não há dúvida sobre isso. Fiquei realmente feliz em saber que tenho um filho e é você! Sim, eu e Melina tivemos um caso proibido, foi tudo escondido, só nós dois sabíamos. Eu gostava da aventura perigosa de entrar na ilha escondido pra ver sua mãe, foram dias incríveis. Mas... as coisas começaram a azedar rapidamente, sua mãe era muito ciumenta, ela exigiu que eu deixasse Margot, mas eu sempre fiquei dividido entre as duas. É possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? Eu achava que não, mas hoje sei que é possível. E o que mais me incentivava no namoro com Melina, era tentar ter um filho que Margot nunca conseguiu me dar. Nos separamos e Melina nunca me contou a verdade, foi como se quisesse me punir por tudo ter acabado e eu ter ficado com Margot e não ela. Mas eu sempre tive uma intuição forte em relação a você, você tinha idade suficiente pra ser meu filho, mas claro poderia ser do Hayden também. Enfim, está tudo esclarecido e agora você não pode me negar um encontro pessoal, sem espelhos no meio, por favor! Tive uma ideia: se eu estou proibido de ir em Solemar e você não viria aqui, iriam alegar que seria perigoso, então por que não nos encontramos na metade do caminho? Sabe de que lugar estou falando? A ilha negra é neutra e segura, há um castelo quase arruinado lá, mas ainda é possível utiliza-lo como ponto de encontro. Aceita? Não me diga não!

Seu pai Dario.

Milo teve um misto de emoções enquanto lia a carta. Era surreal ver o seu "novo" pai falando sobre o romance com sua mãe daquela maneira, dava a impressão que ele era um conquistador barato e interesseiro, afinal queria uma fandan que lhe desse um filho. E sua mãe, percebendo tudo isso, tratou de terminar com ele sem lhe dizer o que ele mais queria ouvir: que estava grávida de um filho dele! No fim da carta, a sugestão de um encontro na ilha negra! Aquele lugar era de arrepiar os cabelos! Sinistro! Havia lendas e mitos sobre aquela ilha que lhe contavam quando ele era criança, estórias de terror! Não, se fosse pra encontrar o pai pessoalmente, jamais aceitaria que fosse na ilha negra! Se bem que... sim, agora lembrava... tinha alguém que conhecia a ilha negra como nenhum outro fandam! Frei, o namorado de Milka! Frei chegou a morar na ilha fazendo testes com plantações de hortaliças! Frei seria seu guia nesta nova aventura, iria na ilha, checaria o castelo, estava louco por se aventurar no mar outra vez!

Frei.

A ação traz mais fortuna que a precaução. 

Luc De Clapiers

Milo e Mara P-101

Enquanto a chuva cai, conversas rolam em Solemar.

 De uma coisa Hayden, Mara e Milo tinham certeza: a família real de Esmirna tinha se dividido de maneira irreversível. Nunca mais, em tempo algum, as coisas seriam como eram antes. Milo conversou seriamente com Mara sobre os últimos acontecimentos:

- Você voltou pra ilha mas nunca me contou nada sobre Dario ser meu pai. Você sabia, porque não me contou? Se não fosse por Athina eu nunca iria saber?

- Desculpe, Milo... Mas eu fiquei numa situação difícil. Testemunhei muitas coisas na cidade murada que preferia não ter visto ou ouvido. A mãe me ordenou que não contasse pra você, isso foi logo depois da briga dela com a tia Margot. Quando você começou a conversar com Dario pelos espelhos eu pensei seriamente em lhe contar, fiquei esperando uma boa oportunidade que não aparecia.

- Como estava a relação de Dario com elas quando você saiu de lá?

- Ele não tem mais nenhum romance com a mãe, eles se tratam... bem... eu achei que ele a trata de uma maneira muito fria e a mãe retribui na mesma moeda. Ele estava namorando com a tia Margot, mas depois da briga rompeu com ela também. Margot acusou a mãe de ter ido atrás de Dario na cidade murada pra tentar reatar com ele, mas eu acho que não, ela fugiu daqui porque não queria ficar em prisão domiciliar. Há uma humana lá na cidade murada que é louca por ele, nunca teve chance, mas acho que ela terá todas as chances agora.

Mara fez uma pausa, suspirou e continuou:

- Sabe o que mais? Pelo que eu soube, há algum problema com Margot, ela não consegue engravidar. Mago Ron estava tentando algumas porções com ela, pra ver se conseguia resolver o problema. Acho que ela se ressente porque a irmã Melina conseguiu dar um filho a Dario, depois ainda teve a mim, e ela neste tempo todo não conseguiu engravidar. Dario sempre quis um herdeiro, quando ele viu você deve ter adivinhado a verdade, afinal você se parece muito com ele.

- Então, você acha que quando ele conversava comigo já sabia que eu sou filho dele?

- Sim, com certeza. A intuição dele é altíssima. Ele deve ter se certificado com a mãe só pra confirmar a suspeita.

Milo achava que a irmã tinha razão. O que faria agora? Escreveria pra Dario? Precisava conversar com ele. A verdade tinha sido dita e por mais que ele quisesse nada a mudaria. Mas Dario foi mais rápido e escreveu antes. Quando ele pensou em se levantar e ir para o escritório, o funcionário dos correios entrou na sala com uma carta de Dario nas mãos.

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O tempo vai curar esta ferida? P-100

Melina na época que se casou com Hayden

Milo e Hayden, os dois fandans mais interessados naquela revelação, levaram algum tempo pra voltar a vida normal. Milo se pegou várias vezes olhando para o vazio, pensando em tudo aquilo e tentando se acostumar com a ideia que Dario era seu pai. Desde o primeiro momento ele pensou que preferia ser filho de Hayden, se pudesse escolher. Afinal Hayden sempre foi e sempre seria, um fandan irrepreensível. O encontro deles depois de tanto tempo separados tinha sido emocionante, ele lhe transmitia confiança, tranquilidade e amizade. Nunca, mas nunca mesmo, Dario lhe transmitiria estes valores tão importantes. Agora, além de sua mãe ser uma fandan má, seu pai também era um mau fandan, os dois excluídos da convivência na ilha de Solemar por mau comportamento. Dentro de Milo começou a crescer um medo inominável: será que ele conseguiria se manter com boa reputação? Será que a maldade, aos poucos, cresceria dentro dele e faria ele mudar? 

Por sua vez, Hayden também viveu dias difíceis. Ele se perguntava como um dia conseguiu gostar de Melina. Ele amou uma miragem, uma fandan idealizada por seu coração apaixonado? Uma fandan que foi capaz de trai-lo sem a menor cerimônia com o próprio tio que já namorava sua irmã? Ele lembrou da época em que começou a desconfiar dela e a partir daí ela deixou de ser perfeita, não tinha mais qualidades e ele só via os defeitos dela. O casamento ainda sobreviveu, porque Melina pediu perdão por suas falhas, Milo tinha 3 anos na época, ela pareceu realmente arrependida... sim, deve ter sido justo no momento que rompeu com Dario e tentou salvar seu casamento. Mas, mesmo agora que ele sabia que Milo não era seu filho, gostava mais dele que de Mara. 

Os fandans de Esmirna estavam aliviados porque a parte boa da família real de Esmirna estava no comando agora. Rezavam pra que as coisas continuassem assim.

Na terceira noite após a revelação, Bah questionou Athina que estava de passagem pela casinha da floresta:

- Athina, como você soube desse segredo?

- Por magia. Eu já desconfiava da verdade há algum tempo, tenho uma amiga muito próxima cuja filha era camareira no palácio de Esmirna, a fandan era muito observadora e chegava em casa contando pra mãe o que percebia no comportamento da família real, isso foi justamente na época que Melina se casou com Hayden e Dario tinha sido expulso da ilha há pouco tempo. Todas as fandans solteiras eram apaixonadas por Dario na época, ele era realmente lindo e sedutor. Então, um dia alguém viu Melina aos beijos com Dario, outros comentavam que Milo era muito parecido com o tio, que Melina olhava pra ele com ar de adoração... juntei tudo e cheguei a conclusão. Mas precisava de uma prova: fiz um teste mágico, parecido com o que Melina fez pra atestar que Milo era filho de Dario e pronto! 

- A verdade é sempre a verdade, mas eu penso que as vezes...ela machuca tantas pessoas que talvez fosse melhor nunca terem falado a verdade.

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Esta é a parte número 100 desta aventura do outro mundo!!

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Mais um segredo revelado P-99

O boato sobre a paternidade do príncipe caiu como uma bomba na ilha de Solemar. Seria realmente verdade? Bah procurou saber de onde partira a informação, seria invenção da mente imaginativa de alguma fandan sonhadora? Não. Ela mesma atestou que o boato, que não era boato no fim das contas, partira de uma fandan fidedigna: Athina! Bah foi chamada ao palácio de Esmirna e lá foi avisada que Milo, Hayden, Mara, Athina e a rainha Lara estavam conversando numa sala trancada. Quando finalmente abriram a porta ela entrou e abraçou Milo. Olhou bem pra expressão do rosto dele, ele parecia incrédulo com aquele novo fato.

- Isso é surreal - disse Milo.

- Isso explica aquela estranha conexão que você diz sentir com Dario - disse a rainha Lara.

- Eu ainda não entendo como isso é possível - disse Hayden - quando Melina engravidou do Milo, Dario não estava mais na ilha. Será que ele vinha aqui escondido?

- Pra mim ele é ousado demais, ele namorou com as duas sobrinhas: Melina e Margot. Isso não é natural. - disse Athina.

- Sim, é mesmo. Será que Margot sabia que Melina namorava o tio como ela? - questionou Bah.

Mara se levantou rapidamente, estava muito nervosa:

- Não, ela não sabia. 

Todos olhavam para ela agora.

- Margot soube há pouco tempo. Elas duas tiveram uma briga horrível lá na cidade murada.

- E quem contou pra Margot? - perguntou Athina.

- O próprio Dario.

Todos se entreolharam. Mara continuou:

- Dario começou a namorar Margot, mas descobriu que Melina era apaixonada por ele também. Então passou a se encontrar com ela aqui, escrevia pra ela. Você está certo pai, ele vinha aqui escondido, a mãe dava passagem pra ele no mar de dentro e ele entrava no castelo pela passagem secreta, naturalmente quando você não estava. Quando Milo era um bebê eles tiveram uma briga feia e aí não se encontraram mais. Ela fez o teste pra verificar a paternidade de Milo, seu pai - ela olhou pra o meio-irmão - é realmente Dario. Margot teve um acesso de fúria quando soube de tudo e as duas irmãs não estão se falando mais. 

Houve um silêncio mortal na sala que foi finalmente quebrado quando Milo perguntou:

- E agora?

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Boato verdadeiro? P-98

No momento em que Dario perguntou quando poderiam conversar a sós, o primeiro impulso de Milo foi ceder e responder algo assim: pode ser agora, o que quer conversar? Mas o espelho extremamente protegido por magia e aparentemente com vontade própria impediu tudo: a imagem de Dario sumiu de repente e tudo ficou escuro. Milo ficou frustrado e chateado, mas nada podia fazer. Imaginava a reação do tio na cidade murada, tinha certeza que tinha sido muito pior que a sua. Uma leve batida de madeira o tirou de seu devaneio: era Erik que voltara da sala ao lado e olhava pra ele com uma expressão impassível.

- Acho que foi melhor assim - disse ele - Não devia confiar em Dario. Estamos tendo boas relações de negócios mas deveria ser só isso, é minha opinião, se quer saber.

Milo olhou pra ele ainda muito chateado, ele não sabia, mas naquele momento se parecia ainda mais com o tio, pelo menos na aparência física.

- Eu só quero conversar com ele, ele é meu tio, é família! 

- Ele é perigoso!

- Minha mãe também é perigosa, mas dei todas as chances que pude pra ela melhorar, não deu certo. Pra meu tio não dei nenhuma, nem o conheço pessoalmente!

*****

Na tarde do sábado, Bah estava na feira fazendo suas compras da semana e vendendo seus doces, quando passou na banca de Milka que vendia os produtos que Frei produzia em Esmirna:

- Bah, sua amiga Syl está em polvorosa procurando por você.

- O que será? Será uma nova fofoca?

Ventava forte, um vento frio que vinha do mar. Bah sentiu um pressentimento ruim chegar. Cumprimentou uma colega do grupo EVA que fazia ronda na feira e que passava ao seu lado naquele momento.

- Está correndo um boato por aí sobre o príncipe - disse a colega.

- O que estão dizendo?

- Bah! - Era Syl que chegava correndo - preciso te contar! - Ela puxou Bah para um canto e baixou a voz - Estão dizendo que Hayden não é o pai de Milo. Ele é pai só de Mara. Isso quer dizer que Milo é apenas meio-irmão dela, eles têm a mesma mãe.

Bah arregalou os olhos, a pergunta era óbvia:

- E quem é o pai de Milo?

- Dario!

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" Não se misture com quem você não seria. "

Negociações P-97

Após a fala de Dario, Margot se adiantou, olhava pra Milo com uma expressão raivosa:

-Você é mesmo atrevido e metido a besta, sua mãe e seu tio-avô tem razão em falar isso de você! Não sabe respeitar os mais velhos? Como ousa falar desse jeito com seu tio-avô? 

Milo sentiu o rosto ficar vermelho e Bah olhou pra Margot com uma resposta na ponta da língua, mas foi o próprio Milo que respondeu:

- Em nenhum momento desrespeitei meu tio, apenas avisei que não vou tolerar segundas intenções além da ajuda mútua entre dois reinos, aliás entre três reinos. Tudo deverá ser feito dentro das normas legais e com toda honestidade.

Dario se levantou e com um gesto indicou a Margot que ela deveria voltar pra seu lugar.

- Então, sobrinho, não conheço as pessoas que estão com você.

Milo apresentou cada um dos presentes na sala, Dario cumprimentou a todos educadamente e deu atenção especial a rainha Lara. Esta não conseguiu deixar de pensar : "Ele consegue ser gentil e delicado quando isso é importante pra ele." Foi a vez de Dario apresentar cada um dos fandans e humanos que estavam ao seu redor. Mara se encolheu quando reconheceu o capitão do exército que sua mãe e sua tia pretendiam que fosse seu marido. Todos se admiraram quando mago Ron apareceu diante do espelho, ele tinha modificado totalmente sua aparência. Athina pensou: "Certamente esta mudança tem um propósito, pois se ele aparecesse na nossa frente ninguém o reconheceria."

Após as apresentações Dario foi direto ao assunto:

- Preciso de bons barcos, sobrinho. Os que fazem aqui são de segunda categoria. O que eu tenho que você quer ou precisa?

A partir deste dia, Milo e Dario se encontraram várias vezes através de espelhos, todas as vezes eles estavam acompanhados de funcionários de governo que anotavam e documentavam tudo. Entre eles a participação eficiente de Erik, pai do primeiro filho de Bah e que se tornara amigo de Milo. Erik era considerado o melhor contador da ilha de Solemar. Os negócios se tornaram realmente bons para os três reinos, trouxeram melhorias e desenvolvimento. Uma tarde, depois de terminado mais um lote de negócios, Dario com um gesto dispensou seus funcionários assim que percebeu que os funcionários de Milo tinham se afastado para a sala ao lado pra arquivar a documentação. Ele chegou tão perto do espelho que Milo teve a impressão que o atravessaria, seus olhos brilhavam quando disse:

- Milo - era a primeira vez naqueles encontros que Dario chamava o sobrinho pelo nome - quando vamos conversar só nós dois? 

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" Nossas aspirações são nossas possibilidades."

O encontro P-96

 Enfim chegou o dia do encontro através de espelhos. Na hora marcada na sala do trono um grande  esquema de segurança estava a postos caso acontecesse alguma coisa errada. Os principais membros dos governos de Esmirna e Solemar rodeavam o príncipe: a rainha Lara e sua comitiva se postou no seu lado direito, como também Bah e o filho dela com Milo. Athina e sua seguidoras mais promissoras que cuidavam da arte mágica também. Os fandans de Esmirna se postavam no lado esquerdo, aí estavam Mara, Hayden e todo o conselho de Esmirna.

Na hora marcada, com precisão de minutos e segundos, Dario apareceu no outro lado do grande espelho. Como Milo, ele também estava cercado de personagens, só que mais humanos que fandans. Milo encarou o tio e ele retribuiu o olhar da mesma maneira: realmente Dario tinha um olhar muito penetrante, daqueles que pareciam enxergar o outro por dentro, o semblante dele estava muito sério e compenetrado. Depois seu olhar passou pra mãe Melina que pra sua surpresa estava bem mais magra, sua postura tinha mudado, ela parecia humilde agora. A tia Margot tinha um ar mais altivo. Os outros que cercavam Dario eram desconhecidos para Milo.

Houve alguns murmúrios e exclamações de ambos os lados do espelho. Melina reconheceu Hayden, seu ex-marido, ao lado da filha Mara e soltou uma exclamação de espanto, depois olhou longamente para o fandanzinho, seu neto, no colo de Bah. Mara tinha os olhos cheios de lágrimas. Hayden não pareceu gostar nenhum pouco de ver Melina, a expressão de seu rosto dizia tudo. Bah se manteve neutra, mas segurava o filho defensivamente. A rainha Lara avaliava todos também de maneira neutra. Athina tinha os olhos fixos em Dario, seguia todos seus movimentos. 

- Sobrinho - era a voz de Dario, baixa e bem masculina, ele deu um sorriso que pareceu sincero - este encontro será inesquecível pra todos nós. A nossa magia é incrível por proporcionar que fandans tão distantes entre si possam conversar olhando um para o outro.

Falou como um político - pensou Milo e respondeu:

- Só será inesquecível de verdade se todos nós ganharmos com esta aproximação. Se em algum momento você, minha mãe ou minha tia, demonstrarem ter segundas intenções maléficas, toda esta aproximação vai retroagir, voltaremos a ficar todos separados e isolados. Estamos todos aqui com boa vontade esperando sua retribuição.

O sorriso no rosto de Dario mudou, parecia um pouco cruel agora, um lampejo passou pelos olhos dele... O silêncio imperou, deu pra ouvir o bater de asas de uma ave na janela. Milo percebeu que aparentemente o tio não gostava de reparos ou críticas ao que ele dizia ou fazia. Era acostumado a fazer e dizer o que quisesse. Sentiu a tensão aumentar em ambos os lados do espelho. Dario parou de sorrir e encarou o sobrinho de novo:

- Você tem razão. Eu tenho o pavio curto, todos dizem isso. Estou me esforçando em melhorar, acredite, é a pura verdade. Viu como me controlei? Você já deu seu aviso, certo? Então, vamos iniciar nossos negócios?

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" Ao menor sinal de amor, retribua."

Marcando uma conversa mágica P-95

 Milo se preparou durante duas semanas pra sua primeira conversa com Dario. O espelho do palácio de Esmirna foi ainda mais protegido e o próprio príncipe foi coberto de proteções mágicas. Aliás foi providenciado um novo espelho pois o original tinha sido quebrado pelo próprio Milo. Houve muito falatório dos fandans e do conselho contra aquele encontro através de espelhos, mas Milo estava decidido em conversar com o tio e foi firme em sua decisão. Ele tinha crédito com seu povo e o conselho, afinal seu governo era impecável, ele estava indo muito bem como governante de Esmirna.

Bah representava bem o que a maioria dos fandans pensava daquilo tudo: ela tinha um certo receio de que apesar de todas as precauções algo saísse errado. Mas havia também uma empolgação, uma ansiedade crescente e muita curiosidade com relação a Dario.

- O que você espera de Dario ? - perguntou ela a Milo numa noite.

- Espero muito... mas sei que talvez não consiga muitas coisas boas dele. A cidade que ele governa está crescendo muito, as pessoas que vivem lá estão melhorando de vida, então como governante ele está indo muito bem. Talvez possamos ter relações comerciais de compra ou até mesmo troca de mercadorias. A troca tem que ser boa pra as duas cidades. Sei algumas coisas sobre ele, digamos o lado bom dele. Sei que vou estar pisando num campo minado o tempo todo, mas acho que vale a pena tentar.

- Descreva o que ele tem de bom, que você já sabe.

Milo sorriu contrafeito:

- Respondo sua pergunta se esse lado bom dele se confirmar.

Quando todos os preparativos estavam prontos, Milo enviou um bilhete pra Dario, dizendo simplesmente que aceitava conversar com ele através do espelho e já marcando, ele mesmo, um dia e um horário para o encontro. O bilhete foi enviado logo cedo, o sol despontava no horizonte quando a ave desapareceu por entre as nuvens que pairavam em frente ao palácio de Esmirna. As horas passaram devagar enquanto a expectativa aumentava em toda ilha. Até que por volta das 10 da manhã a ave retornou e pousou no braço estendido de Milo com a resposta:

Caro Milo

Fiquei realmente feliz quando recebi seu bilhete. Agora você está agindo com coerência pois antes de condenar um familiar ao ostracismo uma nova chance deve ser dada, uma nova chance de redenção. Você não deu uma segunda chance a sua irmã Mara? Pois então... No dia e hora marcados estarei em frente ao espelho, mal posso esperar que esse dia chegue! Espero que essa seja apenas a primeira de muitas outras conversas que iremos ter, pena que não será cara a cara, mas já é um bom começo. Acredite, essa aproximação será boa para todos.

Um abraço

Seu tio Dario.

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